A Comissão Pastoral da Terra (CPT) completa 45 anos de existência na próxima segunda (22). Para celebrar a data, camponeses e agentes pastorais do organismo promoverão um mutirão de partilha de alimentos no território da CNBB Nordeste 2.
Intitulada de “Repartir a terra, partilhar o pão”, ação envolverá comunidades posseiras, de assentamentos da Reforma Agrária, acampamentos, quilombos, pequenos agricultores e famílias ameaçadas de despejo e expulsão que lutam pelo direito à terra e ao território.
Serão milhares de famílias na zona da mata, agreste e sertão de Alagoas, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte recolhendo toneladas de alimentos para prestar solidariedade aos que sofrem com a falta de comida neste período de pandemia.
Para a coordenadora da CPT Nordeste 2, Tânia Souza, o gesto de solidariedade estabelece um diálogo com a cidade e demonstra a importância dos povos do campo.
“Pessoas que lutaram e que ainda lutam pelo direito à terra e ao território, que ocuparam ruas e praças, agora estão fazendo esse gesto com o povo que vive nas cidades. Estão provando a necessidade e a importância da Reforma Agrária e da democratização de territórios. Se temos a terra repartida, teremos o pão partilhado”, afirma.
População de rua e migrantes
Em parceria com a Paróquia Imaculada Conceição, em Maceió, a CPT NE2 irá doar 100 cestas para famílias em situação de vulnerabilidade social de Alagoas. Os kits serão compostos por alimentos recolhidos por comunidades camponesas do bairro de Jacintinho, na periferia da capital alagoana.
Na Paraíba, agricultores das regiões do Cariri e de Curimataú irão partilhar suas produções com 150 famílias de migrantes venezuelanos, que vivem nas cidades de Campina Grande e Puxinanã. Também serão beneficiados os assistidos pela Pastoral do Povo de Rua desses municípios.
Na região do Alto Paraibano, a doação dos frutos da agricultura camponesa, além da parceria com as paróquias terá o apoio das pastorais sociais locais e do Instituto Federal da Paraíba (IFPB). A instituição contribuirá com a distribuição de cestas de alimentos a famílias acampadas e a catadores de materiais recicláveis, em Cajazeiras (PB).
No território da Diocese de Guarabira (PB), serão contempladas as famílias carentes das cidades de Araçagi e Belém.
Pelo menos quatro caminhões e duas caminhonetas repletos de alimentos produzidos por famílias posseiras e de assentamentos da Reforma Agrária serão doados à Ação Social Arquidiocesana da Paraíba (ASA). O grupo, além de distribuir kits de higiene e remédios fitoterápicos, também faz a entrega diária de refeições a pessoas em situação de rua em João Pessoa.
Crianças e quilombolas
Em Pernambuco, as ações de partilha de alimentos também serão descentralizadas. Na região da mata sul, famílias de comunidades que lutam pelo direito à terra e que estão ameaçadas de despejo ou expulsão doarão suas produções. Os alimentos serão destinados a casa que atendem crianças em situação de rua e são mantidas pela Ação Social da Paróquia de Palmares (ASPP), e a famílias que vivem na periferia do município de Jaqueira.
Os agricultores e agricultoras ainda arrecadaram produtos de higiene pessoal para serem distribuídos no Presídio Rorenildo da Rocha Leão, também em Palmares.
Já na região da mata norte, assentados da Reforma Agrária e famílias posseiras realizarão entregas de alimentos produzidos em suas lavouras a comunidades periféricas de Aliança, Tracunhaém, Moreno e do Recife.
No agreste do Estado, quilombolas e pequenos agricultores acompanhados pela CPT NE2 irão partilhar sua produção com famílias que vivem em povoados e na periferia do município de Capoeiras.
Já no sertão do Pajeú, será realizado um mutirão para a colheita de alimentos. Em seguida, os agricultores e a CPT NE2 irão distribuir a produção camponesa nas periferias de municípios da região.
No Estado do Rio Grande do Norte, o mutirão será concentrado na cidade de Mossoró. Comunidades camponesas que atuam com a CPT na região doarão alimentos produzidos em suas lavouras a associações comunitárias e ao Lar da Criança Pobre de Mossoró. A instituição, fundada e dirigida por freiras franciscanas, acolhe pessoas vulneráveis e empobrecidas, além de prestar apoio aos migrantes venezuelanos.
45 anos de luta pelos camponeses
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi fundada em junho de 1975. Naquele tempo já existia a Pastoral Rural, que foi herdeira e continuadora dos trabalhos dos Movimentos de Ação Católica e que tinha como apoio as paróquias e dioceses e, sobretudo, as Comunidades Eclesiais de Base.
Em 1986, a Pastoral Rural, já vinculada à CPT Nacional, tinha o compromisso de acompanhar e assessorar os trabalhadores e as trabalhadoras rurais em suas lutas e organizações: conflitos de terra, assalariados rurais, conflitos de barragens e o novo sindicalismo.
Em 1988, a Pastoral Rural se filia definitivamente à CPT Nacional, constituindo-se em um novo Regional desta pastoral, com sede no Recife.
A CPT Nordeste 2 está presente nos Estados de Alagoas, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, atuando com dez equipes que acompanham, apoiam e assessoram um grande número de grupos de base e comunidades camponesas. As atividades das equipes são coordenadas pelo Secretariado Regional e por uma coordenação colegiada.
As principais ações e atividades formativas são agrupadas em três grandes conteúdos e perspectivas: a conquista da terra e da Reforma Agrária, o acesso e a defesa das águas e a promoção dos direitos da cidadania plena no campo. A CPT NE2 incorporou na sua temática e mística, a ecologia, a sustentabilidade e as novas relações de gênero.
Na CNBB NE2, a CPT NE2 está vinculada à Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora, que tem como presidente o bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Limacêdo Antônio da Silva.