A Comissão Pastoral da Terra do Regional Nordeste 2 da CNBB (CPT NE2) divulgou, nesta quarta (8), um vídeo que flagra um helicóptero lançando agrotóxicos sobre plantações na cidade de Jaqueira, na mata sul de Pernambuco. Os trabalhadores denunciam que ação provocou danos à saúde dos moradores e dos animais, e pôs em risco os mananciais da região.
A CPT NE2 levará o caso às autoridades competentes a fim de que uma investigação sobre a legalidade da ação seja instaurada imediatamente.
“Segundo os camponeses a pulverização do veneno foi realizada no período da tarde de terça (7) pela empresa Agropecuária Mata Sul S/A, que vem entrando em sucessivos conflitos com os posseiros da região. O odor do veneno foi tão intenso que provocou fortes dores de cabeça [nos trabalhadores] logo após a aplicação”, diz a CPT NE2.
A “chuva de veneno” é mais um capítulo do extenso conflito agrário provocado pela empresa Agropecuária Mata Sul S/A que se arrasta há dois anos. A CPT NE2 recebeu, nos últimos meses, várias denúncias de atos de violência praticados contra os trabalhadores rurais.
“A mais recente delas ocorreu há uma semana na comunidade de Barro Branco, quando a empresa tentou cercar a fonte de água que abastece as famílias do local, mas foi impedida pela comunidade”, afirma a comissão.
A Agropecuária Mata Sul S/A é arrendatária de parte das terras da antiga Usina Frei Caneca desde 2017. São cerca de 5.000 hectares que correspondem a aproximadamente 60% de todo o território do município de Jaqueira (PE).
Na área vivem mais de 5.300 posseiros, praticamente, metade de população da cidade. Essas famílias são trabalham e moram no local há mais 60 anos, desenvolvendo atividades agrícolas de subsistência.
“Desde que a empresa chegou à área, os camponeses e as camponesas relatam situações de intimidações, destruições e queimadas de lavouras e mata nativa, destruição de fontes d’água, ameaças e perseguições, além de esbulho de suas posses”, explica a CPT NE2.
Atualmente, segundo a comissão, há cerca de 30 ações possessórias, coletivas e individuais, ajuizadas pela empresa contra famílias do local. A situação é acompanhada pela Diocese de Palmares (PE).
O caso já foi denunciado à Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado, à Procuradoria Geral do Estado (PGE), ao Ministério Público Estadual, ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Também já tomaram conhecimento da situação, o Incra, a Prefeitura e a Câmara municipais de Jaqueira, deputados estaduais. O Poder Judiciário também foi alertado das atitudes abusivas e ilegais da empresa.
Veja o vídeo do momento em que o veneno é lançado sobre as comunidades rurais em Jaqueira (PE):