Desequilíbrio ecológico, danos estruturais nos imóveis, águas contaminadas e problemas de saúde física e mental. A chegada de parques eólicos no interior do Nordeste tem deixado um legado de destruição em nome da suposta “energia limpa”. A realidade preocupante de comunidades rurais inteiras estão no foco da Comissão Pastoral da Terra (CPT NE 2) e da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2.
No fim de março, os organismos – que estão ligados à Comissão Regional para a Ação Sociotransformadora – se uniram à Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do estado de Pernambuco (Fetape). Representantes das três organizações, mais voluntários e pesquisadores, deram início a uma série de visitas às comunidades atingidas pelos aerogeradores.
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), são 869 parques eólicos no país, sendo mais de 80% deles no Nordeste, com cerca de 8.200 aerogeradores instalados na região. Vários desses equipamentos estão nas comunidades Pau Ferro e Pontuais, ambas em Caetés, no agreste de Pernambuco. As áreas foram os pontos de partida da missão da CPT NE 2, Cáritas NE 2 e Fetape.
“Antes era uma tranquilidade. A gente anoitecia e amanhecia em paz com a natureza. Hoje o barulho é tão grande que nunca sai do ouvido e cada dia está piorando”, disse o agricultor José, morador de Pau Ferro.
O também agricultou Simão contou aos participantes da missão que o maior dano dos parques eólicos, na região onde vive, é o que acomete o meio ambiente. “Antes do parque até as plantas cresciam mais rápido. Hoje elas estão paradas. As plantas que já estão grandes muitas não estão dando mais frutos”, afirmou.
A missão esteve ainda na comunidade de Sobradinho, no mesmo município pernambucano. Lá, a agricultora Edna exemplificou o impacto das torres de energia eólica sobre a saúde mental. “Nossa vida aqui era um sossego. Hoje tomo quatro remédios para dormir, mas não faz efeito”, contou.
CPT NE 2 lança documentário
O início das visitas aos territórios afetados pelos parques eólicos na área da CNBB NE 2 antecedeu o lançamento do documentário “Vento Agreste”. O filme que está disponível desde quinta-feira (6), no canal da CPT NE 2 no YouTube, foi realizado pela comissão em parceria com o Instituto Mãe Terra, com a equipe de Residência em Saúde Coletiva e Agroecologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e com o Fundo Casa Socioambiental.
Vento Agreste apresenta o dia-a-dia de quem convive ao lado dos parques eólicos. Os depoimentos colhidos no documentário evidenciam os danos causados pelos aerogeradores a moradores de comunidades camponesas. A CPT e a Cáritas Nordeste 2 buscam com as denúncias também apoiar a luta pela reparação dos direitos violados.
Assista o documentário Vento Agreste na íntegra:
Com informações e fotos da CPT NE 2