A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deu início, na manhã desta quarta-feira, 23 de março, à reunião do Conselho Permanente. Na pauta, diversos assuntos relacionados à atuação da entidade e de interesse da Igreja no Brasil. Entre as primeiras atividades do encontro, a apresentação das análises de conjuntura social e eclesial. Também foi dedicado um momento de escuta e solidariedade aos bispos da eparquias ucranianas no Brasil.
Análise de conjuntura sociopolítica
A análise apresentada neste mês de março pelo Grupo de Análise de Conjuntura Padre Tierry Linard tratou sobre o contexto, a dinâmica e os desafios das eleições nacionais deste ano. O material analisou o contexto das eleições frente o cenário de conflito internacional. Segundo a apresentação, feita por dom Francisco Lima Soares, o contexto das eleições ainda não está completamente definido e a guerra e seus desdobramentos políticos e econômicos introduzem novas incertezas.
Foram detalhadas as etapas do processo eleitoral e citadas as novas dinâmicas introduzidas com a possibilidade de formação de federações partidárias e a proibição de coligação nas eleições. Em relação ao andamento da eleição presidencial, foi ressaltada a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula.
A análise apresentada chamou atenção para as escolhas dos representantes no Poder Legislativo: “Nos próximos quatro anos muitas decisões relevantes serão tomadas nas casas legislativas, em particular no Congresso Nacional. O processo eleitoral é uma oportunidade de qualificar a representação política”.
Análise de conjuntura eclesial
A equipe do Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (INAPAZ) apresentou a terceira parte da análise de conjuntura com o tema “O evento sinodal latino-americano e o caminho da Igreja no Brasil”. O grupo buscou elucidar forças e fraquezas e apresentou estratégias que podem ser implementadas a partir dos elementos identificados tendo a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe como objeto.
A partir das forças e fraquezas que interferem no caminho sinodal da Igreja no Brasil, foram apontadas como estratégias de crescimento a possibilidade de investir na consciência missionária de todos os batizados e de promover o conhecimento e a aplicação da Doutrina Social da Igreja.
Em outro ponto, foram indicadas as estratégias de “animar uma evangelização ‘em saída’ para iluminar as situações críticas, de vulnerabilidade e de fronteira; animar e investir na formação do laicato; seguir na reflexão sobre o papel das mulhers como sujeitos da vida eclesial; revitalizar a opção pelos jovens e conhecer e discernir o fenômeno pentecostal-carismático, buscando caminhos para evangelização e interlocutores para o diálogo ecumênico.
Outras estratégias, apontadas na metodologia como “de sobrevivência”, destacam que “a sinodalidade pede receptividade ao Espírito de Pentecostes, em disposição à escuta e à coparticipação, com espaços e métodos adequados, sobretudo de avaliação e deliberação” e que é necessário “examinar as causas e os mecanismos que alimentam o clericalismo nos seus variados níveis”.
Conduziram a apresentação o secretário do INAPAZ, padre Danilo dos Santos; o membro do grupo de peritos do INAPAZ padre Marcial Maçaneiro; e o arcebispo de Brasília e presidente do INAPAZ, dom Paulo Cezar Costa.
Ao final das reações e comentários à análise eclesial, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, lembrou que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil “têm tonalidades sinodais” e propôs uma avaliação sobre o quanto se colocado essa sinodalide em prática nas ações pastorais da Conferência. “Uma avaliação caberá talvez de um modo muito mais forte na nossa 59ª Assembleia Geral. Corremos o risco de ter horizontes ricos, interessantes e interpelantes e não praticá-los”, afirmou.
Solidariedade aos ucranianos
A sessão dessa manhã teve um momento dedicado à escuta e manifestação de solidariedade ao povo ucraniano, por meio dos bispos que atendem à comunidade residente no Brasil: dom Volodemer Koubetch, arquieparca da metropolia católica ucraniana, e dom Meron Mazur, eparca da Imaculada Conceição de Rito Ucraniano.
Dom Walmor Oliveira salientou a ocasião de escuta para “crescer na solidariedade e na disposição de orações”, diante da guerra que ocorre há quase um mês na Ucrânia, com os ataques russos.
Dom Volodemer Koubetch agradeceu a oportunidade de poder partilhar o que tem vivido a comunidade ucraniana sob seus cuidados e também pela solidariedade, a ajuda do Regional Sul 2 da CNBB para acionar a Cáritas na Campanha “Pela Ucrânia, pela vida”.
“É um momento bastante difícil, temos dado tantas entrevistas e, neste momento a gente não tem nem palavras para dizer o que sentimos, o que o povo ucraniano sente, que padecem. Aqui no brasil, sentimos profundamente essa dor”, disse.
O bispo chamou atenção para o “sério perigo” de o mundo encarar uma nova guerra mundial. E denunciou o que ocorre na Ucrânia como um massacre, “uma nova versão do genocídio contra o povo ucraniano”, tendo como origem o presidente russo. “É uma situação complicada, muito complexa, imprevisível, um drama humanitario”.
Dom Meron Mazur expressou sua gratidão à conferência episcopal e aos bsipos que enviaram por mensagens e e-mails, “orações por esse momento tão difícil que estamos passando “. Segundo dom Mazur, “o povo está sofrendo muito” e há várias equipes de TV na cidade de Prudentópolis (PR) à procura dos descendentes de ucranianos, mas com abordagens sensacionalistas.
O bispo partilhou a iniciativa de acolhida de refugiados e algumas informações que chegam do país do Leste Europeu. Segundo dom Meron Mazur, o exército russo tem buscado danificar os corredores humanitários na fronteira com a Polônia.
“Na capital, há muitas bombas. Estão destruindo hospitais, edifícios residenciais e alegando para o mundo que estão apenas tentando neutralizar as bases militares. À base de mentiras de guerra”.
Ele também agradeceu pelo gesto dos bispos em participarem da Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria.
Outros temas
Ainda na manhã desta quarta-feira, o Conselho Permanente aprovou os nomes dos bispos que irão compor o Júri Pastoral dos Prêmios de Comunicação da CNBB. A lista com os indicados foi apresentada pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB.
A Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia anunciou que a Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos (Cetel) concluiu, nesta semana, a revisão das orações eucarísticas, no processe de tradução da terceira edição do Missal Romano. Antes da etapa presencial da 59º Assembleia Geral da CNBB, quando deve ser votado todo o material traduzido, os bispos poderão avaliar e fazer indicações.
Ao final da sessão, os bispos tiveram um momento de partilha de iniciativas realizadas nos Regionais e pelos organismos.
Conselho Permanente
É o órgão de orientação e acompanhamento da atuação da CNBB e dos organismos a ela vinculados, bem como órgão eletivo e deliberativo.
O encontro reúne a Presidência da entidade, os presidentes das Comissões Episcopais e os membros eleitos dos Conselhos Episcopais Regionais. Também participam assessores e representantes de pastorais e organismos, além de convidados.
A reunião ocorre de forma virtual.
Fonte: CNBB