Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)
Há espaços e instituições que fazem parte da vida das pessoas, das famílias e da sociedade, como a casa e a escola. A casa é o primeiro espaço de vida e convivência. O povo faz essa associação na espontaneidade de sua linguagem, ao afirmar que “quem casa quer casa”. Em todas civilizações, esse espaço tem forma e estrutura próprias, a exemplo das ocas e aldeias dos indígenas, das casas populares nos diversos países e mansões suntuosas das camadas social e economicamente privilegiadas. A história de cada pessoa está intimamente relacionada com sua casa, com seu lar, com os registros da sensibilidade do seu coração. A esse respeito escreve um autor: “Casa é lugar para a gente morar. Lar é o espaço que existe para a gente viver, desfrutar e construir a energia que vai gerar a nossa vida. Casa é uma construção de cimento e tijolos. Lar é uma construção de valores e princípios. Casa é o nosso abrigo das chuvas, do calor, do frio…Lar é o abrigo do medo, da dor e da solidão. Casa é o lugar onde as pessoas entram para dormir, usar o banheiro, comer. Onde temos pressa para sair e retardamos a hora de voltar. O lar é o lugar onde os membros da família anseiam por estar nele, onde refazem suas energias, alimentam-se de afeto e encontram o conforto do acolhimento. É onde temos pressa de chegar e retardamos a hora de sair. Numa casa criamos e alimentamos problemas. O lar é o centro de resolução de problemas. Numa casa moram pessoas que mal se cumprimentam e se suportam. Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência, se apoiam e nas lutas se solidarizam. Casa é local de dissensões, conflitos, discórdia… No lar as dissensões, os conflitos, existindo, servirão para esclarecer e engrandecer. Numa casa desdenha-se dos nossos valores. No lar sonhamos juntos. Numa casa há azedume e destrato. Num lar sempre há lugar para a alegria. Numa casa nascem muitas lágrimas. Num lar plantam-se sorrisos.” Quando visto como lar, esse espaço familiar é muito rico em significação por ser lugar de humanização, porque as pessoas são consideradas na sua individualidade, no relacionamento com outros membros.
Outra instituição, a escola, não é tão antiga como a casa, todavia, tem longa existência e, assim, é “uma das instituições sociais mais importantes”, em todos os tempos. Como a casa, a escola tem estrutura e organização próprias porque sua razão de ser é acolher pessoas de todas as idades, de todas as localidades, proporcionando-lhes formação e conhecimento. As desigualdades sociais também são identificadas na escola, equipamento privado e público, cuja consequência é a exclusão de segmentos da população que, ainda hoje, são mal atendidos e estigmatizados pela mancha do analfabetismo, ou a excelência do resultado de sua frequência, por parte de outros usuários. Por isso, constatam-se vivências no interior de muitas escolas que se assemelham àquelas que acontecem no interior das casas, dos lares. Como em relação aos seus lares, todas as pessoas têm um olhar humano sobre esse espaço, a escola, em razão do significativo tempo de sua permanência, no seu processo de escolarização. No entanto, atônita, a população faz sua leitura a respeito das situações de violência, de “dissensões, conflitos, discórdia” que acontecem nas casas. Essa situação está retratada na violência doméstica, mediante agressões psicológicas, físicas, sexuais, feminicídio, uxoricídio, infanticídio, realidade tristemente crescente no Brasil. Quadro semelhante acontece nas escolas, cuja agressividade se manifesta na relação conflituosa entre professor/aluno e no relacionamento socialmente doentio do corpo discente.
Lamentavelmente, a casa e a escola, que ontem eram o espaço de humanização, por seu caráter educativo, hoje, estão se transformando em espaço de sofrimento familiar e de desagregação social.