A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 (Cáritas NE2), organismo vinculado ao Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB NE2) deu início ao projeto “Promoção e Defesa de Diretos na perspectiva da construção de sociedades do Bem Viver”. A iniciativa, desenvolvida em parceria com a instituição católica alemã Misereor, tem o objetivo de auxiliar agricultores que têm seus direitos violados com a instalação de parques eólicos.
Em todo o Brasil, existem mais de 520 parques eólicos, o que significa 13 gigawatts de capacidade instalada. Desse total, 80% está instalado no Nordeste, sendo a Bahia e o Rio Grande do Norte os maiores estados produtores e, portanto, os mais afetados. Além dos impactos nos ecossistemas, como o desaparecimento de espécimes nativas da fauna, as turbinas e hélices gigantes provocam danos irreversíveis à saúde de quem vive próximo dessas estruturas que vão desde problemas auditivos até depressão.
“Tem pessoas aqui que estão tomando remédios controlados, tendo problemas de memória e insônia, tudo por conta do barulho das hélices. Fora que, de vez em quando, ela [a turbina] faz um barulho estranho. Uma vez teve um vazamento de óleo e a gente achou que ia explodir”, relata a agricultora Ana Maria de Araújo, moradora do Sitio Santa Rita, no município de Lagoa Nova (RN).
Em Pernambuco, a empresa Casa dos Ventos inaugurou em 2015 o maior complexo eólico do Estado com 107 aerogeradores nos municípios de Caetés, Pedra e Paranatama. Desde então, as famílias dessas localidades têm relatado os problemas que vem afetando a saúde dos agricultores. Seu Simão Salgado, agricultor da cidade de Caetés (PE), afirma que mesmo com os apelos que foram feitos pelos moradores e com a intervenção do Ministério Público, as soluções oferecidas pela empresa não minimizam os impactos causados pelos parques.
“Só nós que sabemos os efeitos que esses parques têm causado para as comunidades e nos tirado a paz desde que foram instalado”, diz o trabalhador rural. Seu Simão ainda denuncia que as empresas se aproveitam da inocência de muitos agricultores para assinar os contratos de concordância com a instalação dos aerogeradores.
A ameaça da chegada do vizinho indesejado também tira o sono de muitos nordestinos. Na Paraíba e em Alagoas, já há a especulação de terras para a instalação de parques eólicos. Na comunidade de Serra Bonita, município de Palmeira dos Índios (AL), foram instaladas as antenas para medição dos ventos para avaliar a viabilidade da construção das estruturas.
“Essa antena foi colocada a menos de mil metros das primeiras casas da comunidade. Estamos preocupados com o que isso pode nos causar, já que não temos informações nem do município e nem do fazendeiro aonde essa antena está”, declara a agricultora Vera Lúcia Félix.
Na Serra do Bom Bocadinho, na cidade paraibana de Cuité, a especulação também preocupa as famílias que estão para receber os parques praticamente em seus quintais. “A gente fica com medo porque nós não sabemos o que esperar, acredito que vai trazer um grande transtorno para comunidade. Ninguém vai querer ficar num lugar onde não se tem sossego. A gente já não quer ir para a cidade por conta dos barulhos, e agora vem aparecer isso aqui? É muito ruim só de pensar”, lamenta dona Maria Risoneide Silva Cardoso.
Empoderamento das comunidades locais
Seja nos locais que já tenham a presença de parques eólicos, seja nas áreas em estudo para a implantação, a Cáritas NE2 tem realizado discussões acerca da temática, promovendo o debate com as famílias agricultoras e comunidades. Por meio do projeto “Promoção e Defesa de Diretos na perspectiva da construção de sociedades do Bem Viver”, o organismo fará a aplicação de diagnósticos e levantamentos para mapear a situação dessas localidades.
A ação prevê ainda a visita de acompanhamento para revisão dos contratos assinados pelos agricultores, encontros de aprofundamento temáticos sobre e consolidação de dados e a realização de atos públicos para a sensibilização social sobre o tema, culminando em um seminário formativo sobre política ambiental e a relação com os megaprojetos.