Com a abertura do Ano Família Amoris Laetitia, a Igreja celebra os cinco anos da exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia – sobre a alegria do amor na família. O documento do Papa Francisco é fruto de duas assembleias sinodais sobre a família, uma extraordinária, em 2014, e outra ordinária, em 2015.
Daqui até junho de 2022, quando será concluído o ano convocado pelo Papa, por ocasião do Encontro Mundial das Famílias, em Roma, a ideia é aprofundar o conteúdo do documento, como motivou o Papa: “Estas reflexões serão postas à disposição das comunidades eclesiais e das famílias, para as acompanhar no seu percurso”.
Em entrevista ao Portal Vida e Família, o secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, padre Alexandre Awi Mello, explicou a proposta deste ano especial:
A proposta do ano Família Amoris Laetitia marca os cinco anos do documento que é fruto de dois sínodos que trataram sobre a realidade e a beleza do amor na família, especialmente no mundo atual. A oportunidade que temos é justamente de redescobrir a beleza desse documento, tomar o documento novamente em mãos, lê-lo, descobrir como aplicá-lo da melhor maneira possível nas nossas famílias, nas nossas comunidades, nas nossas dioceses. Esse é o objetivo deste ano, que possamos realmente redescobrir, revalorizar, ler com mais atenção e tirar todas as consequências possíveis desse documento que é fruto de um longo trabalho, uma longa reflexão e, sobretudo, uma ação especial do Espírito Santo para que a família possa ser vista como Deus a vê no mundo de hoje.
Nesta sexta-feira, 19 de março, o prefeito do Dicastério, cardeal Kevin Farrel, disse que ano especial deve ser um tempo para que as famílias não se sintam sozinhas perante as dificuldades. Para ele, existe um convite “ao acompanhamento dos casais e das famílias em crise, ao apoio aos que ficaram sós, às famílias pobres, desagregadas”.
Também ao Portal Vida e Família, o bispo de Camaçari (BA) e ex-presidente da Comissão Vida e Família, dom João Carlos Petrini, que participou do Sìnodo em 2014 por escolha da 52ª Assembleia Geral da CNBB, explicou em artigo vários pontos relevantes da assembleia sinodal, bem como do documento publicado.
Dom Petrini recorda a mudança de atitude da Igreja que, de uma postura moralista, “que se limitava a recordar as normas que orientam o matrimônio cristão, os compromissos recíprocos dos cônjuges, os deveres e as obrigações com os filhos e com os idosos, com pouca sensibilidade para compreender as circunstâncias da cultura e da sociedade que dificultam a compreensão e até impedem a tranquila observância dessas normas”, começou um caminho “mais atento às pessoas, às suas exigências humanas mais profundas, apresentando a Misericórdia do Senhor como ponto para um novo começo, oferecendo novas motivações, razões adequadas para valorizar a família tocada pela graça do matrimônio”.
Dentro desse olhar positivo e realista, está inserida a Amoris Laetitia. Nela, continua dom Petrini, “o Papa Francisco percorre a Palavra de Deus e o Magistério da Igreja para falar da Presença de Cristo, da graça do sacramento do matrimônio, ajudando a resgatar as possibilidades de vencer desafios apostando na beleza da conjugalidade, da paternidade e da maternidade, da condição de filho e assim por diante (Cf. todo o capítulo 3: O olhar de Jesus: a vocação da família))”.
O bispo também pontua que algumas passagens da AL só podem ser compreendidas no horizonte da “Conversão Pastoral”, também presente no Documento de Aparecida (DA 365-370) e na Evangelii Gaudium: “é uma mudança de chave pastoral que nos conduz a uma atitude missionária, de procura ativa e não de espera, bem no estilo da ‘Igreja em saída’”.
Dom Petrini cita o Papa Francisco: “Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma ‘simples administração’. Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’, em todas as regiões da terra. […] que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’” (EG 25, 27). E sublinha: “Em Amoris Laetitia, ele dá um passo a mais, pedindo que toda a pastoral da Igreja se coloque em atitude de serviço à família (AL, 200-201)”.
Essa atitude missionária também está somada à sensibilização. Para o casal brasileiro que participou do Sínodo sobre as Famílias em 2014, Arturo e Hermelinda Zamperline, “o maior ganho desta Exortação foi a sensibilização, a conscientização das sombras, dos desafios enfrentados pelas famílias no contexto do mundo atual”.