A profecia do Natal – A humanidade renovada | Dom Fernando Saburido

A festa do Natal não é apenas a celebração do aniversário do nascimento de Jesus. É a celebração do fato de que Deus não nos deixou no mundo sozinhos. Ele nos uniu em comunidades de vida e fez conosco uma aliança de amor. Selou essa aliança ao enviar Jesus, o seu filho, para divinizar todo ser humano e iniciar uma humanidade nova. A cada ano celebramos o Natal para agradecer a Deus esse presente e rever até que ponto temos sido fieis a esse projeto divino de nos renovar e fazer nova a humanidade e o mundo em que habitamos.

O evangelho do dia do Natal nos lembra que “a Palavra Divina (o Verbo) se fez carne”. Isso significa “assumiu em tudo a realidade humana”. A partir daí, tudo o que é verdadeiramente humano é, ao mesmo tempo, divino. A vida é um dom de Deus, o que significa que a vida só existe se é recebida. Se a vida é doada, isso dá a quem recebe a vocação de corresponder a esse dom vivendo um constante renascer. Ninguém nasce de uma vez. Começamos a nascer em um dia no qual vimos ao mundo e ali o corpo, a mente e o espírito vão se formando. A vida vai amadurecendo em nós e em torno de nós. Então o nosso nascimento só se completa no futuro. No primeiro momento do nascimento, precisamos de quem nos dê a luz e quem cuide de nós. Na vida inteira, somos chamados a cuidar e aceitar ser cuidados. Isso se concretiza em nossa vocação para o diálogo. Não celebraremos bem este Natal se enchermos nossa casa de luzes e de imagens, mas não nos esforçamos para dialogar mais uns com os outros. Se nos tornarmos intransigentes e radicais, incapazes de dialogar, não podemos celebrar o bem o Natal de Jesus.

O Natal nasceu como resultado do diálogo entre o Cristianismo e a antiga religião romana. Até o século IV, o 25 de dezembro era a festa do solstício do inverno no norte. Tornou-se memória do nascimento de Jesus para nos lembrar a vocação divina da humanidade. Hoje em um mundo plural e diversificado, o Natal é festa de confraternização e irmandade universal. Vai além da festa da Igreja. A vocação de todos nós, humanos, é tornar esse mundo terra de cuidado e relações humanizadas. Não podemos compreender o Natal se interpretamos a Palavra de Deus de modo desencarnado e dualista. O centro de todos os relatos natalinos é aquilo que, mais de uma vez os evangelhos repetem: “encontrareis um menino recém-nascido, envolto em faixas e deitado em uma manjedoura”. A revelação do Natal é dada aos pastores pobres na noite de Belém e eles a descobrem na pobreza de uma manjedoura de animais. A proclamação dessas Palavras na noite de Natal pode ressoar estranha. Como levar a sério palavras tão comprometedoras e claras em um mundo cada vez mais violento e cruel, em um Brasil no qual a paz e a convivência harmoniosa entre as pessoas parecem distantes?

Alimentamos a esperança de que esse Natal de 2018 possa trazer para o Brasil e para todo o mundo, a superação da violência e o início de um tempo novo para a humanidade. O evangelho nos faz perceber que o projeto de Deus é mudar pelo avesso a realidade do mundo. A virgem Maria sintetiza isso em seu cântico: “Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os pequenos”. A mensagem de humildade que aprendemos no Natal deve ser a nossa meta a conquistar. Dessa forma poderemos, verdadeiramente, entender e vivenciar a autêntica mensagem do Natal de Jesus.

Feliz Natal e abençoado Ano Novo!

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB

Arcebispo de Olinda e Recife

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