A multidão de fiéis tinha uma só alma e um só coração (At 4,32)

Dom Mariano Manzana
Bispo da Diocese de Mossoró (RN)

Queridos irmãos e irmãs, com alegria e esperança iniciamos um novo ano em nossa história pessoal e eclesial. Ao celebrarmos o ciclo do Natal, nossa fé se anima pela fidelidade de Deus que radicalizou sua presença entre nós por meio da encarnação do Verbo, seu Filho Unigênito. Nosso compromisso se renova como discípulos e missionários de Jesus Cristo, Mestre e Senhor, que nos guia como rebanho seu, como Bom Pastor, nos caminhos da missão.

No início do novo ano nossos olhos vislumbram e contemplam a celebração solene do Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa Francisco (2021-2023), como a consolidação e autoconsciência eclesial de um longo caminho de consulta ampla e sistemática ao povo de Deus, meditações e reflexões sobre a Igreja e seu futuro no âmbito da missão evangelizadora no mundo. Após percorrermos todos os processos de preparação metodológica e vivência comunitária do Sínodo, que destacou os princípios da “comunhão, participação e missão” como uma trilogia necessária em vista de um “caminho sinodal” para ação da Igreja na sociedade, amadurecemos a consciência de que não é possível ser Igreja no terceiro milênio sem o “jeito sinodal” que deve caracterizar a caminhada eclesial.

O Povo de Deus não marcha na história de forma aleatória, fragmentada ou sem uma perspectiva apresentada no mandato missionário de Jesus. Somos povo eleito e enviado por Ele para atualizarmos no mundo a mensagem da Boa Nova do Reino prometido. Tenhamos presente a imagem das comunidades primitivas retratada nos Atos dos Apóstolos: “Eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna e nas orações” (At 2, 42). Sinodalidade significa caminhar juntos. Ou seja, não partimos do nada, fomos escolhidos e enviados; não caminhamos sem rumo, temos um mandato missionário; não caminhos sozinhos, Ele está conosco até “o fim dos tempos” (Cf. Mt 28, 20). Assim como aclamamos liturgicamente na quinta Oração Eucarística, “caminhamos na estrada de Jesus”, pastoralmente também deve se realizar essa máxima do discipulado na vida e na missão.

Não podemos criar conflito entre fé e vida, liturgia e pastoral, sob o risco de contradição e no limite nos perdermos nos caminhos da evangelização. Para evitarmos a perda de nós mesmos devemos ter presente a urgência e necessidade do caminho sinodal.

A sinodalidade exige de cada um de nós um desejo sincero de conversão. A busca contínua de superação de uma mentalidade centralizadora e autoritária, a partir de uma participação que fomente a força transformadora do Povo de Deus. Conversão de uma mentalidade personalista e excêntrica, a partir de uma participação que fortaleça a comunhão do Povo de Deus. Sem o caminho sinodal, não seremos Igreja e a missão se diluirá em meros eventos aleatórios, voltados sobre si mesmos, sem a fecundidade do

Espírito Santo que renova todas as coisas. Sejamos sinodais, caminhemos juntos. pois somos chamados a viver num “só coração e numa só alma”.

 Um feliz e abençoado caminho sinodal a todos! Um feliz e abençoado Ano Novo!

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