Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo da Arquidiocese de Natal
Queridos irmãos e irmãs!
Neste tempo tenebroso em que vivemos, com a pandemia da COVID-19, somos chamados a clamar por Misericórdia. Mas, precisamos entender o que é Misericórdia. Misericórdia não é um sentimento qualquer de Deus, como se fosse reação diante de uma súplica, de uma oração de petição. “O nome de Deus é misericórdia”, lembrou Papa Francisco. Deus não só tem, mas é Misericórdia. A sua essência é ser misericórdia. Isso se baseia nas palavras de Jesus, quando no Sermão da Montanha, inclui entre as Bem-aventuranças a misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7), e ainda porque diz: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Deus age sempre com misericórdia porque Ele está presente em nossa vida, porque Ele nos criou para que participássemos de sua Vida, porque o pecado não o fez desistir de nós. Isto é uma verdade de nossa fé: Deus cria por amor, cria para estar em comunhão conosco, e Ele destrói o que se apresenta como impedimento de Ele realizar sua obra: por isso, Ele redime o ser humano, através do seu Filho, a Imagem segundo a qual fomos criados.
No próximo domingo, o 2º da Páscoa, dia 19 de abril, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. Esta é uma festa instituída por São João Paulo, a partir dos escritos e das experiencias místicas de Santa Faustina Kowalska (1905-1938). São João Paulo II ainda deixou para toda a Igreja uma Encíclica sobre o tema da Divina Misericórdia, a segunda publicada por ele, Dives in misericordia, com data de 30 de novembro de 1980.
O Papa Francisco dedicou ao tema da Misericórdia um Jubileu Extraordinário, que durou de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016. Francisco proclamou o Jubileu com a Bula Misericordiae vultus, o Rosto da Misericórdia, apresentando a forte dimensão cristológica da Misericórdia, sem deixar de apresentá-la como “a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade” (FRANCISCO. Bula Misericordiae vultus, n. 2), e “a arquitrave que suporta a vida da Igreja” (Idem, n. 10) e que “a justiça de Deus é a misericórdia concedida a todos como graça, em virtude da morte e ressurreição de Jesus Cristo” (Idem, n. 21). Essa é a grande mensagem de Papa Francisco para nós, nestes últimos 7 anos: precisamos ser misericordiosos. Numa de suas orações, escritas em seu Diário, Santa Faustina apresenta uma que manifesta o desejo de “ser misericordioso”. Seria bom que todos rezassem essa oração, pois ela indica um caminho de discipulado necessário e urgente neste tempo em que vivemos: “Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos, de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajuda-los. Ajudai-me, Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos, de modo que eu esteja atento às necessidades dos meus irmãos e não me permitis permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas. Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal dos meus irmãos; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão. Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras, nem se cansem jamais de fazer o bem aos outros, enquanto, aceite para mim as tarefas mais difíceis e penosas. Ajudai-me, Senhor, para que sejam misericordiosos também os meus pés, para que levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço; o meu repouso esteja no serviço ao próximo. Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso e se torne sensível a todos os sofrimentos do próximo: ninguém receba uma recusa do meu coração” (SANTA FAUSTINA. Diário, Caderno I, pp. 78-79).