Os 24 acolhidos na Fazenda da Esperança Padre Antônio Henrique, em Muribequinha, Jaboatão dos Guararapes, receberam nesta quinta-feira (04/04) a visita de profissionais e estudiosos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Liderada pela pró-reitora de Extensão da Universidade, Ana Virgínia Marinho, a equipe foi ministrar cursos de capacitação como previsto em parceria assinada há dois anos entre a UFRPE e a Arquidiocese de Olinda e Recife.
Segundo Ana Virgínia, os cursos oferecerão aos acolhidos a chance de desenvolver habilidades para inseri-los no mercado de trabalho após o tempo de permanência na Fazenda. “Serão cursos diferentes, todos com certificação, incrementando o currículo dessas pessoas que vão precisar de um trabalho lá fora para se manter”.
O administrador da Fazenda da Esperança, André Ramos, explicou que a parceria não tem data para expirar. “A Pró-Reitoria de Extensão tem a missão da partilha de conhecimentos nas comunidades e somos muito gratos por esse olhar social da Universidade”, disse André.
Os rapazes puderam escolher um dos três cursos oferecidos e se dividiram em grupos. Ana Virgínia Marinho ministrou o curso de práticas cartoneiras, ao lado da coordenadora de Comunicação, Arte e Cultura da UFRPE, a professora Fábia Burgos. O nome pouco comum do curso refere-se à produção de livros artesanais com capa e costura feitas à mão. O acolhido Leonardo participou da oficina e ficou responsável por repassar as técnicas para todos os colegas da Fazenda da Esperança. “A ideia é que todos possam confeccionar um livro, anotar nele seus sentimentos e entregá-lo a uma pessoa da família ao concluir o tempo de recuperação na Fazenda”, disse a pró-reitora. José Adrian, de 18 anos, simpatizou com a proposta e usou suas habilidades manuais na oficina. “Achei bom porque ocupa a mente e a gente não pensa nas coisas da rua”, afirmou o rapaz, que chega a produzir manualmente quinze terços todos os dias.
Coordenadora de Integração Comunitária, a professora Presciliana Brito ensinou sobre o beneficiamento do leite. Na primeira aula, mostrou como fazer ricota e programou, para os próximos dias, a produção de doce e sorvete.
Roberto Albuquerque, coordenador de Educação Continuada, trabalhou com o estagiário Ronaldo, orientando os acolhidos sobre horticultura. O assunto despertou o interesse de muitos, já que aprendem a lidar com a terra assim que chegam à Fazenda. No curso, os rapazes aprenderam sobre hortas verticais e horizontais.
Rotina – Os cursos oferecidos nesta quinta-feira pelos professores da UFRPE alteraram a rotina já intensa da Fazenda da Esperança. Para se ter uma ideia, quando os profissionais chegaram, às 10h da manhã, os acolhidos já haviam se confessado com o padre Valdenor e participado da celebração eucarística. Alguns estavam participando da catequese para a primeira comunhão, orientados pela Ir. Valdirene, da congregação das Filhas da Caridade São Vicente de Paulo. Outro grupo se preparava para o atendimento com a psicóloga Fabiane Rodrigues, especialista em dependência química e saúde mental. E o almoço já estava sendo encaminhado pela equipe da cozinha. “Trabalho, convivência e espiritualidade são a base para a recuperação dos rapazes”, disse o coordenador André. Quem concorda com ele é o acolhido Lauro Paulo, de 30 anos, que está se preparando para receber a Eucaristia pela primeira vez. “A ciência diz que não existe cura para a dependência química, mas quando a gente busca Deus nas orações e no amor ao próximo, Ele nos sustenta para que a gente não caia”, disse. “O que cura não é o tempo, mas a mudança de vida, com Deus dentro da Fazenda da Esperança e com Deus quando a gente estiver lá fora”, completou.
A psicóloga Fabiane Rodrigues acredita no trabalho da Fazenda da Esperança e realiza atendimentos semanais, em grupo e individualmente, como voluntária. Fortalecimento da autoestima, enfrentamento e conscientização biológica são alguns objetivos a alcançar entre os acolhidos, que não são obrigados a participar dos encontros. Fabiana conta sobre o o que a impulsionou a prestar esse serviço voluntário: “Tive casos de dependência química na família e pude ver de perto pessoas muito queridas padecendo desse mal”. Ao saber da abertura da unidade de Muribequinha, bairro próximo ao seu, a psicóloga decidiu fazer parte desse projeto. “Eu não somente dou, como ganho muito com esse serviço”, afirmou.
Mensagem – “Buscar a glória que vem de Deus”. Essa era a mensagem do dia afixada nas paredes das casas, dirigida aos acolhidos como incentivo para transformação de vida. A estratégia é utilizada pelo Carisma da Esperança no Brasil e no mundo inteiro. A cada dia, uma nova frase para nortear pensamentos e ações. Dita antes, durante e depois das tarefas, das refeições, dos descansos. A Fazenda da Esperança busca recuperar a dignidade humana por meio da libertação da dependência química. A obra social na Arquidiocese de Olinda e Recife completou esta semana um ano de funcionamento.
Pascom AOR