Após a passagem do ciclone Idai pelo leste do continente africano, nos dias 14, 15 e 16/03, três países foram afetados pelas enchentes e fortes ventos: Moçambique, Zimbábue e Malaui. A comunidade de missionários da Obra de Maria, que desenvolve trabalhos sociais e de evangelização há 10 anos no município de Dombe, em Moçambique, foi atingida pelo Idai. O ciclone destruiu escolas, hospitais, estradas e até agora foram confirmadas mais de 300 mortes. De acordo com o presidente de Moçambique, Filipe Nuysi, as violentas tempestades podem ter deixado mais de mil mortos.
Segundo informações de Gilberto Barbosa, presidente-fundador da Obra de Maria, as missões da Obra de Maria e Fazenda Esperança funcionam em uma escola no distrito de Dombe, região central de Moçambique e são mantidas com a ajuda de brasileiros. De acordo com Barbosa, mais de 80% de tudo construído foi arrasado pelo Idai. Ao todo, mais de dez brasileiros estão em missões na região. Entre eles, estão três pernambucanos.
Com a passagem do vento, a 170 quilômetros, todos ficaram sem água potável, energia, abrigo e comida. Em Moçambique, a Obra de Maria atua em dois internatos, um hospital, uma escola e uma creche, além de duas Fazendas da Esperança, locais em que ocorrem atividades educacionais e religiosas voltadas às pessoas pobres. “A creche ficou submersa e a Fazenda da Esperança também foi bastante atingida”, conta a missionária Maísa Melo. “Teremos que reconstruir quase tudo. Perdemos a horta que cultivava feijão e milho. A população vive da agricultura e se alimenta de uma papa de milho três vezes ao dia. Várias pessoas da comunidade morreram”, lamentou.
Preocupado com a situação dos missionários, Gilberto disse que está mantendo contato com autoridades estrangeiras e também com o bispo moçambicano para ajudar todos os desabrigados. As doações para a Obra de Maria podem ser feitas no Banco do Brasil, agência 3613-7, conta-corrente de número 6396-7. O CNPJ da Associação Comunidade Obra de Maria é o: 00.303.435/0001-05.
Representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmaram que a tempestade provocou o pior desastre natural a atingir o Hemisfério Sul. Mais de 1,7 milhão de pessoas foram afetadas pelo mau tempo no país. O cenário descrito pela ONU é de devastação. O ciclone Idai, que passou também pelo Malaui e o Zimbabue, deixou pelo menos 222 mortos, segundo balanço provisório divulgados pelos governos nessa segunda-feira.
Além dos efeitos iniciais provocados pelo intensos ventos e a chuva, grande região de Moçambique convive agora com inundações. Lola Castro, do Programa Alimentar Mundial, diz que há áreas em que a água está seis metros acima do nível normal. O Rio Buzi, na província de Sofala, saiu do seu leito, matando dezenas de pessoas. Representantes do programa estão na Cidade da Beira, capital da província de Sofala, distribuindo alimentos em escola da região.
Nos três países mais afetados pelo ciclone, as pontes e as estradas estão destruídas, o que dificulta as operações de socorro. A ajuda humanitária tenta chegar de helicóptero e em botes de borracha. Em Moçambique, uma área de 100 quilômetros está totalmente inundada. “Estamos trabalhando com a Nasa, a agência espacial norte-americana, e com a Agência Espacial Europeia para obter informações mais completas sobre as áreas afetadas e o número de pessoas presas lá”, afirmou Carolina Haga, da Federação Internacional da Cruz Vermelha. O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, apelou à população que reside perto dos rios da região para que abandonem a área “para salvar as suas vidas”. A União Europeia anunciou hoje um apoio de emergência de 3,5 milhões de euros para ajudar a população africana afetada pelo ciclone – 2 milhões para Moçambique, 1 milhão para o Malaui e 500 mil ao Zimbabue.
Relatos de uma missionária da Obra de Maria – O município de Dombe, no Centro de Moçambique, tem 58 mil habitantes, segundo o censo divulgado em 2014 pelo governo de Moçambique, e fica a 963 quilômetros da capital moçambicana, Maputo. A região de Dombe foi atingida pelo Idai na noite de quinta-feira (14) e, em seguida, o ciclone avançou rumo ao Zimbábue e ao
Malaui. O número de vítimas do ciclone Idai, segundo o presidente de Moçambique, pode chegar a mil. Há, também, cerca 600 mil pessoas afetadas e 100 mil que precisam de ser urgentemente resgatadas perto da cidade de Beira. “Ficamos em nossas casas até se agravar a situação, daí recorremos à casa dos padres que é o ponto mais alto, no primeiro andar”, conta Maísa Melo, que atua em Moçambique pela Obra de Maria há cerca de dez anos. Com ela, estão outra missionária pernambucana, uma do Rio Grande do Norte e outros dois missionários moçambicanos.
Maísa relata que o grupo ficou sem acesso a água potável durante a passagem do ciclone. “Perdemos a bomba e os painéis solares que o vento do ciclone danificou, mas tínhamos água em botijas na casa do padre. A água que estamos tomando agora é retirada com bombas manuais, mas ainda não sabemos se é seguro tomar”, conta a pernambucana.
Durante a passagem do Idai, a alimentação precisou ser racionada para servir as 260 pessoas abrigadas no mesmo local em que Maísa se encontra. “Servíamos ‘chima’ uma vez por dia”, conta a missionária. Chima é uma espécie de mingau à base de milho e açúcar, servido para incrementar a única refeição do dia, servida por volta das 15h. “Começamos a fazer canoas com pedaços de árvores e cortamos os troncos das bananeiras para fazer jangadas e resgatar as pessoas que estavam presas em árvores. Agora estamos doando nossas roupas, pois as pessoas que chegam aqui não têm o que vestir. Houve muita destruição, mas isso não é nada em relação à questão da vida humana”, diz Maísa. A missionária conta que a situação começou a melhorar a partir da tarde da segunda (18), quando foi possível sair do local em que elas estavam em direção a um outro povoado. “Lá encontramos alguns alimentos e compramos o que deu para trazer. Podemos passar uns dois dias com o que temos, mas nossa preocupação é se vamos conseguir mais. Até agora, não chegou ajuda do governo”, conta.
A preocupação, agora, é com a possibilidade do surto de doenças. “Aqui o saneamento é péssimo. As pessoas fazem as necessidades em buracos e, com a enchente, há muitas fezes a céu aberto. Estamos preocupados com possíveis doenças”, diz Maisa.
(Pascom AOR, com informações da comunidade Obra de Maria, Agência Brasil e Portal G1/ Fotos: cortesia Obra de Maria)