Nesta sexta-feira, 15/02/19, o Arquivo Dom Lamartine da Arquidiocese de Olinda e Recife deu uma importante contribuição para a memória da Igreja Católica do Brasil e de Pernambuco. Foi lançado no Centro de Pastoral da Arquidiocese, bairro da Várzea, onde se encontram as instalações do Arquivo, o Inventário dos Documentos das igrejas antigas de Olinda e Recife, publicação que reúne o resumo e descrição dos documentos restaurados e preservados pelo Projeto de Preservação da Memória do Arquivo dom Lamartine. A publicação do Inventário, uma espécie de catálogo, e todo o serviço de restauro e conservação da documentação antiga resultam de uma soma de esforços que vem acontecendo desde maio de 2018, quando teve início o projeto. A iniciativa foi possível graças ao convênio com a empresa Arte sobre Arte, incentivo do Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura), com o apoio da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), da Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco e da Comissão de Cultura da Arquidiocese.
O bispo auxiliar da Arquidiocese, dom Limacêdo Antonio e o vigário-geral da Arquidiocese, monsenhor Luciano Brito, representaram o arcebispo dom Fernando Saburido, no lançamento do Inventário. Também estiveram presentes ao evento representantes da Fiocruz, da Biblioteca Central da UFPE, do Arquivo Público Estadual, do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), do Conselho de Preservação do Estado, da Fundarpe, do Centro de Estudos de História da Condepe/Fidem, do Memorial Severina Paraíso (Terreiro Xambá, Olinda), da Academia Pernambucana de Letras, do Museu do Estado, do Instituto Ricardo Brennand, dentro outras organizações vinculadas à área de cultura, preservação, memória e restauro de documentos.
A solenidade de lançamento do Inventário dos Documentos das igrejas antigas de Olinda e Recife teve a abertura no auditório, com uma apresentação do projeto, conduzida por Débora Mendes, coordenadora do projeto. Dom Limacêdo saudou os convidados presentes e expressou o seu contentamento com a iniciativa de restauro da documentação. Em seguida, os convidados se dirigiram para conhecer as instalações do Arquivo Dom Lamartine e os resultados do projeto, com os documentos restaurados e preservados. Cada representante de entidade recebeu um exemplar do Inventário e as instituições que desejarem receber uma via da publicação podem solicitar gratuitamente um exemplar pelo e-mail do Arquivo: [email protected]
A equipe de trabalho foi formada por restauradores, historiadores, paleógrafos (especialistas em paleografia – forma antiga de escrita), sob a coordenação da restauradora Débora Mendes e o projeto teve a duração de seis meses. O projeto teve como objetivo a organização, conservação e o acondicionamento da documentação coletada nas igrejas e irmandades de Olinda e Recife. A primeira etapa também gerou o Inventário, uma publicação especializada para pesquisadores, que cataloga e detalha a documentação objeto do projeto. A coordenadora do Arquivo dom Lamartine, Acácia Coutinho, informa que a documentação objeto do projeto foi recolhida nas irmandades de Recife e Olinda e também nos seguintes locais:
– Olinda: Convento do Carmo, igrejas de Guadalupe, de São João, do Bonfim, do Rosário dos Homens Pretos, da Boa Hora, do Amparo e de São Sebastião.
– Recife: igreja de São Pedro dos Clérigos, do Santíssimo Sacramento (bairro Santo Antônio), de Conceição dos Militares, da irmandade de São José da Agonia, de Nossa Senhora do Terço, da matriz do Corpo Santo, de São José do Ribamar, de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, da Madre de Deus e da igreja do Rosário da Boa Vista.
A coordenadora do Arquivo dom Lamartine adianta que a documentação contemplada pelo projeto compreende o período do final do séc. 18 e 19, recolhida em 17 igrejas e irmandades de Recife e Olinda. Conforme relata a restauradora Débora, o trabalho de coleta documental vem sendo desenvolvido há dois anos, coordenado pelo padre Rinaldo Pereira, presidente da Comissão de Cultura da Arquidiocese. “Sãos documentos inéditos, que nunca foram lidos, pois reúnem o registro financeiro das igrejas, livros de receitas, de despesas, atas, termos da mesa regedora, contendo decisões e que mostram como a igreja se organizava na época do sistema de padroado”, explica Débora. Naquele período do Brasil-Colônia, a Igreja Católica no Brasil possuía função semelhante a um cartório de registro civil e atuava em conjunto com a Coroa Portuguesa, expedindo documentos e registros da população em geral, como a emissão de certidões de nascimento, passaportes, além de fazer os registros eclesiásticos de praxe, como certidões de batismo, de matrimônio, dentre outros.
Para ilustrar a riqueza histórica dos documentos alvo da preservação do projeto, Débora cita o caso de um livro de registro inédito, nunca antes analisado, encontrado na igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo. O livro chama-se “Assentos de Óbitos dos filhos das mulheres escravas de acordo com a lei do ventre livre (1871-1873)”. A partir da análise do conteúdo deste livro, vai ser possível traçar perfis antropológicos, etnológicos e sociais da época da criação da lei do ventre Livre e saber inclusive quais as doenças da época.
A coordenadora do Arquivo, Acácia Coutinho, destaca que o último desafio, que vai requerer a elaboração de outro projeto, será a digitalização da documentação. Os técnicos especializados em história, restauro e conservação que atuaram no projeto foram Diego Rodrigues, Givaldo Bernardino, Célia Salsa e Wellington Oliveira, sob a supervisão de Débora Mendes, padre Rinaldo Pereira e Acácia Coutinho.
(Pascom Arquidiocese)