Sabedoria, amiga da Vida. Dom Antônio Fernando Saburido, OSB.

Mais uma vez, a CNBB nos convida para fazer de setembro o Mês da Bíblia. Sem dúvida, o motivo da escolha desse mês está no fato de que ele se conclui com a memória de São Jerônimo, pai da Igreja do século IV, que consagrou toda a sua vida aos estudos bíblicos. A ele devemos a primeira tradução da Bíblia latina, além de inumeráveis comentários bíblicos.

Desde 1971, a CNBB estimula as comunidades a dedicarem esse mês à leitura e ao estudo bíblico para o aprofundamento da nossa fé e da missão que Deus nos deu. Cada ano, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética da CNBB escolhe um tema e nos oferece subsídios valiosos para encontros e reflexões durante o mês da Bíblia.

Nesse ano 2018, o livro bíblico escolhido foi a primeira parte do livro da Sabedoria (1, 1 a 6, 21). O tema do ano é inspirado na 1ª carta de João: “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema afirma: “A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano”(Sb 1, 6).

Nas livrarias católicas da cidade, podemos encontrar livros e cartilhas que oferecem bons subsídios para uma compreensão mais profunda do livro da Sabedoria e um apelo a que vivamos a fé mais ligada à vida e à justiça. De fato, na Bíblia, a Sabedoria é caminho para a justiça e para a vida em plenitude, como assegura o Evangelho de São João 10, 10.

Sabedoria, na língua hebraica, significa literalmente experiência e remete não tanto à erudição e ao conhecimento teórico, mas ao saber viver e saber conviver bem. Em nossas línguas, o saber tem algo a ver com o sabor. É sábio quem é capaz de saborear bem a vida e ajudar as pessoas a viver assim na paz e na justiça.

Atualmente, no Brasil, alguns meios de comunicação espalham uma onda de intolerância e de radicalismos sociais e políticos que não admitem a diversidade de opiniões, a pluralidade de culturas e mesmo a alteridade (a diferença do outro). Alguns grupos cristãos chegam a usar o nome de Jesus para defender propostas de ódio e de violência, como se fossem proprietários de Deus e da Bíblia para seus objetivos sociais e políticos. Nesse contexto, o estudo do livro da Sabedoria pode nos ajudar muito.

O livro da Sabedoria foi escrito em grego e em Alexandria, portanto fora da Terra da Bíblia, no final do século 1 antes de Cristo. Por isso, é chamado de “deuterocanônico”, ou seja, faz parte de uma segunda lista dos livros considerados como inspirados por Deus na Bíblia. E reflete a preocupação do diálogo entre a cultura da comunidade judaica (de Alexandria) e a cultura grega na qual as comunidades deviam se inserir. Insiste na justiça como caminho de sabedoria, de felicidade e de vida. E revela que o Espírito de Deus está presente em todas as culturas e dialoga com tudo o que é humano (Sb 1, 7).

Ao pensar na nossa arquidiocese, em suas paróquias, em nossos queridos padres, diáconos, religiosos/as e agentes de pastoral, só posso pedir a Deus que esse espírito de diálogo e de amor universal nos reanime na missão nessa Igreja particular e nos faça ser realmente testemunhas para toda pessoa humana de que a Sabedoria (Divina) é um espírito amigo do ser humano (Sb 1, 6) e é caminho para a justiça e a vida.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB

Arcebispo de Olinda e Recife

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