A discussão sobre o grande mal da violência interessa a toda a comunidade humana. O clima de pavor, medo e até de pânico propaga-se por toda parte. Somos pressionados por uma onda de terror e de insegurança. Cada vez mais levantamos os muros de nossas residências e os muros do coração, passamos a criar, de forma esquemática, a cultura da separação. Estamos acostumando-nos a viver cada vez mais longe das pessoas. Os meios de comunicação divulgam crimes bárbaros e o cidadão comum, ávido de novidades, absorve essa enxurrada de tristes informações, gerando dentro de si aquele sentimento de impotência diante deste mal que se alastra. Parece que o poder do mal sempre vence!
Ora, a reação da sociedade é inevitável! Por isso a pressão sobre os poderes constituídos aumenta. Cobra-se, e com razão, alguma ação efetiva para enfrentar a crescente onda de violência no País. São muitas as iniciativas de superação da violência, e deve ser assim mesmo – não podemos paralisar nos emaranhados do mal.
Na Campanha da Fraternidade, promovida pela CNBB, toca-nos profeticamente o tema da superação da violência. Como Igreja de Cristo, jamais podemos consentir uma sociedade anestesiada na não-superação de tudo aquilo que divide e gera mal social. Os cristãos não podem preocupar-se com o bem-estar egoístico, como se vivessem numa redoma de vidro, achando que os problemas dos outros não são os seus.
As exigências do Evangelho levam-nos a reforçar a irmandade, somos todos irmãos (Mt 23, 8). As ideias, os costumes e as diferenças não podem de forma alguma nos separar. As particularidades dos outros jamais devem ser munição para combatê-los, mas são oportunidades de efetivar o valor do outro, que é meu irmão e que muito pode me ensinar. Devemos, e pela força do Batismo somos naturalmente chamados, ser promotores da cultura de paz.
Diante de uma humanidade tão chagada pela dor da divisão, “impõe-nos” o dever da caridade em qualquer circunstância. Essa, por sua vez, sempre nos levará à promoção do bem e da verdade, sempre nos levará ao caminho da Paz (Lc 1, 79), o caminho de Jesus. Nossas sociedades, nas suas mais variadas diferenças, só serão espaços de respeito mediante o esforço comum da tolerância e do querer bem ao outro. E mesmo que pareça ser ingênuo afirmar que todos somos irmãos em Cristo, cabe-nos, como bons cristãos, insistir nisto: somos irmãos em Cristo!
Dom Manoel Delson
Arcebispo Metropolitano da Paraíba