Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)
A principal oração do povo de Deus é a Celebração Eucarística, a Santa Missa. Esse mistério é celebrado na Igreja, do tempo dos apóstolos até hoje e assim será até a “consumação dos tempos”. “A celebração da Missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja universal como local e também para cada um dos fiéis. Nela se encontra tanto o ápice da ação pela qual Deus santifica o mundo em Cristo, como o do culto que os homens oferecem ao Pai, adorando-o pelo Cristo, Filho de Deus, no Espírito Santo. […] É por isso de máxima conveniência dispor a celebração da Missa ou Ceia do Senhor de tal forma que os ministros sagrados e os fiéis, participando cada um conforme sua condição, recebam mais plenamente seus frutos que o Cristo Senhor quis prodigalizar ao instituir o sacrifício eucarístico de seu Corpo e Sangue, confiando-o à sua dileta esposa, a Igreja, como memorial de sua paixão e ressurreição.”
A Igreja Católica no Brasil vive um momento significativo para a vida espiritual dos fiéis. Após longos anos de dedicado e cuidadoso trabalho da Comissão Episcopal para a Liturgia e da Comissão para a Tradução dos Textos Litúrgicos, esta “nova edição do Missal Romano para o Brasil” foi aprovada pelos Bispos da CNBB, “na 59ª Assembleia Geral da CNBB e encaminhada ao Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos em dezembro de 2022. A confirmação da Santa Sé foi publicada no dia 17 de março deste ano.” Assim, observados todos os passos de sua tradução e atendidos todos os requisitos de sua aprovação, nas instâncias cabíveis, a 3ª edição típica do Missal Romano passa a ser usada no Brasil, oficial e obrigatoriamente, no início do novo Ano Litúrgico, no Primeiro Domingo do Advento, no dia três de dezembro, em todas as paróquias e comunidades católicas. Na celebração da Santa Missa, o Missal Romano é o “Livro do Altar” (Altar, “Mesa da Eucaristia”) enquanto o Evangeliário e o Lecionário são “Livros do Ambão” (Ambão é a “Mesa da Palavra”). Durante o Rito da Palavra, na celebração da Missa, “Quando se leem as Sagradas Escrituras na |Igreja, o próprio Deus fala a seu povo, e Cristo, presente em sua Palavra, anuncia o Evangelho.” Por essa razão, a Palavra de Deus se encontra no Lecionário (nos lecionários). E considerando a importância da Palavra pronunciada pelo próprio Cristo no Evangelho, escrito pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, a Igreja a reverencia, de modo especial, enfeixando-a no Livro do Evangeliário. O ministro ordenado no grau diaconal ouve do Bispo ordenante esta palavra de exortação: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares.”
O texto acima, extraído da “Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário” (IGMS), deixa claro que a finalidade da 3ª edição do Missal Romano para o Brasil é contribuir para que “os ministros sagrados e os fiéis, participando cada um conforme sua condição,” possam fazer uma rica experiência de oração comunitária, quando se reúnem para alimentar a sua fé, como assembleia. No dia de sua ordenação presbiteral, o neo-sacerdote, ao receber o pão na patena e o vinho no cálice, ouve essa exortação do Bispo ordenante: “Recebe a oferenda do povo santo para apresentá-la a Deus. Toma consciência do que vais fazer e põe em prática o que vais celebrar, conformando tua vida ao mistério da cruz do Senhor.” Em seu magistério, a Igreja admoesta o sacerdote a ter plena consciência a respeito da dignidade, da santidade da liturgia eucarística: “A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios. […] Atualmente, também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso, mas expressivo, o seu amor à Igreja’.” Por sua vez, “Na celebração da Missa os fiéis constituem o povo santo, o povo adquirido e o sacerdócio régio para dar graças a Deus e oferecer o sacrifício perfeito, não apenas pelas mãos do sacerdote, mas também juntamente com ele, e para aprender a oferecer-se a si próprios. Esforcem-se, pois, por manifestar isto por meio de um profundo senso religioso e da caridade para com os irmãos que participam da mesma celebração.”
Necessariamente, há de se compreender que há uma relação profunda entre oração e fé, de parte do sacerdote e dos fiéis. Uma conhecida e sábia expressão ensina essa verdade de forma resumida: “Lex orand, lex credendi. A frase completa: Lex orandi statuat legem credendi. Traduzindo: A norma da oração estabeleça a norma da fé. A Igreja crê o que ela reza. Por outro lado, a Igreja celebra ou reza o que ela crê.” A esse respeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica, n. 1124: “A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. […] A lei da oração é a lei da fé, ou seja: a Igreja traduz na sua profissão de fé aquilo que expressa na sua oração. A liturgia é um elemento constitutivo da santa e viva Tradição.”
Que o uso do Missal Romano, na “Mesa da Eucaristia”, e dos Livros Litúrgicos, na “Mesa da Palavra”, favoreça uma participação fervorosa dos fiéis católicos, fortalecendo, assim, sua vida de oração e testemunhando sua fé, comunitariamente.