Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)
O mês de setembro tem uma significação especial por motivar as pessoas a fazerem uma leitura da realidade que as envolve, sob a ótica pastoral, cívica e solidária. Pastoralmente, no Brasil, a Igreja Católica celebra, há muitos anos, o Mês da Bíblia, “devido à Festa de São Jerônimo, celebrada no dia 30. Foi ele quem traduziu os textos bíblicos originais – do hebraico e do grego para o latim.” No calendário cívico, a população comemora a Independência do Brasil, com manifestações especiais no dia Sete de Setembro. A sociedade se mobiliza para favorecer a consciência de uma vivência solidária, no enfrentamento da realidade do suicídio, doença da sociedade contemporânea.
Este ano, a Carta aos Efésios foi escolhida para aprofundamento da vida e da conduta das pessoas. “Essa carta foi escolhida por tratar da Igreja, e estar em sintonia com o Sínodo convocado pelo papa Francisco, que será desenvolvido de outubro de 2023 a outubro de 2024, com o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Outro motivo da escolha é a ênfase dada ao batismo, por ser um aspecto fundamental da Iniciação à Vida Cristã, temática esta, vinculada à vocação batismal a ser discípulo(a) missionário(a), como sublinha o documento da Conferência Episcopal dos bispos da América Latina e do Caribe que ocorreu na cidade de Aparecida (SP)”, em maio de 2007. “O lema do Mês da Bíblia de 2023, ‘Vestir-se da nova humanidade’, é extraído de Ef 4,24 e está inserido numa exortação da carta, na qual o autor apresenta aos batizados e batizadas, no que consiste assumir a vida nova, após a adesão a Cristo pelo batismo, sobretudo, o seguimento a Jesus e o testemunho no contexto tão diversificado como era o da Ásia no início da Igreja.” Ao escrever aos cristãos de Éfeso, convertidos do paganismo, São Paulo lhes apresenta um novo modo de viver, unido a Cristo. Ao ser batizada, a pessoa se torna uma “nova criatura”. Como fruto dessa adesão, a comunidade dos batizados é uma “nova humanidade”. São Paulo exorta os cristãos “a manterem a unidade na diversidade; a agirem eticamente, tendo Cristo como o princípio normativo; a comportarem-se como filhos e filhas da luz; a revestirem-se da ‘nova humanidade’ em Cristo; a mudarem as relações familiares e sociais; a serem imitadores de Deus, deixando-se guiar pelo Espírito”.
A comemoração da Semana da Pátria e, particularmente, o dia da Proclamação da Independência, jamais deveriam ser instrumentalizados, ideológica e politicamente, inclusive mediante o uso direcionado de seus símbolos porque, afinal, a nacionalidade é um bem coletivo. Com efeito, o nascedouro da nacionalidade se encontra na história pátria que, no passado, tem o registro de lutas e conquistas. Hoje, a nacionalidade exige, igualmente, responsabilidade coletiva do universo dos governantes e dos cidadãos, em vista da superação das gritantes e inadmissíveis formas de desigualdade social, manifestadas na oferta de educação deficitária, de precário atendimento à saúde, de habitação insuficiente para a população, da assustadora violência na cidade e no campo. Enfim, “o grito da Independência” ainda está pra acontecer para muitos segmentos da sociedade.
O mês de setembro fala ao coração da humanidade, para que se torne uma “nova humanidade”, em face de um problema grave, o suicídio. É conhecido como “Setembro Amarelo” porque “o dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio”. No Brasil, há “aproximadamente 14 mil casos por ano”. No mundo, “mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio”. “Se precisar, peça ajuda!” é o lema da campanha de prevenção do suicídio em 2023. Por que motivar a sociedade a se colocar, atentamente, diante dessa situação? Eis a razão: “A responsabilidade de conscientização e prevenção do suicídio recai sobre toda a sociedade, e é crucial que superemos o tabu que ainda cerca esse assunto. Falar abertamente sobre o tema é fundamental para encorajar pessoas em momentos de crise a buscar ajuda, mostrando que a vida sempre oferece outras alternativas. A orientação de um médico psiquiatra é essencial para manejar a situação e salvar vidas.” Muitas famílias experimentam a dor dessas mortes antecipadas. A misericórdia de Deus é a melhor chave de leitura para compreensão do gesto dos suicidas e a força maior para as pessoas que carregam o peso desse sofrimento.
O mês de setembro, Mês da Bíblia”, fala à fé dos cristãos, a partir da Palavra de Deus. A vida nova em Cristo torna os discípulos uma “nova humanidade”. A comemoração republicana do Sete de Setembro sempre contém um apelo à unidade nacional. Com o alerta do “Setembro Amarelo”, o sentimento de solidariedade não pode deixar ninguém indiferente diante da preocupante estatística do suicídio e da constatação de que alguém precisa de ajuda.