O Santo Padre nomeou dez novos membros para a Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, sendo sete mulheres e três homens. A eles se juntam nove membros que foram reconduzidos mais um membro que foi nomeado para um mandato de três anos no ano passado.
O teólogo brasileiro Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos está entre os membros que foram reconduzidos para mais um mandato. A Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, agora vinculada ao Dicastério para a Doutrina da Fé, tendo como uma de suas características “ser independente”, é a instância cujo papel é contribuir para que a Igreja seja um lugar cada vez mais seguro para crianças e pessoas vulneráveis.
O brasileiro é um dos fundadores da Fazenda da Esperança, iniciativa que dá novo sentido à vida de pessoas com dependência química e que também sofreram abusos. Nelson atuará por mais cinco anos no grupo, que agora terá outros dez membros, o dobro da formação anterior. Metade dos membros da Comissão é composta por homens e a outra por mulheres. São 6 membros da Ásia/Oceania, 6 da Europa, 4 das Américas e 4 da África. Integram a Comissão três bispos, três religiosas e dois padres que se juntam a dez fiéis leigos e dois membros de outras Igrejas cristãs.
O arcebispo de Boston, nos Estados Unidos, e presidente da Comissão, cardeal Sean Patrick O’Malley, destaca que os membros da Comissão são oriundos de todo o mundo, defensores e praticantes da proteção de crianças e adolescentes com origens variadas e possuem uma paixão comum: “Promover o bem-estar de crianças e pessoas vulneráveis”.
Segundo o cardeal, os membros da comissão incluem representantes do direito canônico, serviço social, profissões médicas e psicológicas, policiais e judiciários, bem como especialistas pastorais que atualmente trabalham em dioceses e congregações religiosas. “Todos eles passaram uma parte significativa de suas vidas profissionais ouvindo e apoiando vítimas/sobreviventes de abuso sexual por parte do clero e do pessoal da igreja”, contou.
O portal da CNBB entrevistou o representante brasileiro reconduzido para mais um mandato. Sobre a sua recondução, Nelson atribui ao reconhecimento, pelo Sumo Pontífice, do seu trabalho e à importância de ter um brasileiro nesta frente de atuação. A seguir, a íntegra da conversa na qual o representante brasileiro faz também um balanço sobre o trabalho da Comissão na Igreja e fala sobre a sua missão junto ao Santo Padre.
Qual a função o senhor tem exercido até o momento na comissão?
A minha função, como de todos os outros atuais 20 membros da Comissão Pontifícia, é a de ser como um conselheiro para o Santo Padre sobre as melhores práticas para a questão da proteção da criança e do adolescente e do adulto vulnerável dentro da Igreja. Desde que o Papa criou a Comissão pontifícia, em 2014, ele quis se cercar de homens e mulheres, religiosos ou leigos, que tivessem experiência na área da proteção, porque para enfrentar esse sofrimento do abuso sexual cometido por membros da Igreja, ele sentiu que deveria ter um grupo de pessoas escolhido por ele para que pudessem ajudá-lo nessa questão. É um desejo do Papa que crimes nunca mais se repitam no ambiente eclesial. A função nossa é ajudá-lo nessa tarefa de erradicação completa desse tipo de delito dentro da Igreja.
O que poderia destacar das iniciativas realizadas nos últimos anos?
Em toda a Igreja, houve uma consciência sempre maior, iniciada já pelos Papas precedentes, da escuta das vítimas. Então, a Comissão Pontifícia foi uma das que ajudou para que o Papa atual e os Papas anteriores se encontrassem com vítimas de abuso sexual cometido por membros da Igreja para que elas sentissem o amor da Igreja que é mãe não só do sacerdote, mas também dos leigos, das crianças, dos adolescentes, dos adultos que, depois dos sofrimentos provocados na época da sua infância ou adolescência, pudessem se abrir e serem acreditados e pudessem também receber justiça e, ao mesmo tempo, cuidado das feridas provocadas por este delito. Uma das maiores realizações da comissão foi essa.
Além disso, em três frentes de trabalho, a Comissão trabalhou em todo o mundo, em todas as conferências episcopais, no sentido de criar diretrizes para a questão da proteção de criança, adolescentes e adultos vulnerável dentro da Igreja. Desde 2011, a Congregação da Doutrina da Fé mandou uma carta circular pedindo para que todas as conferências episcopais, todas as dioceses, congregações e comunidades eclesiais criassem essas diretrizes que pudessem nortear a atividade, também no sentido de prevenção, de educação e de formação, no sentido de que a proteção acontecesse, que a Igreja continuasse a ser um ambiente seguro para todas as crianças e adolescentes. A segunda tarefa é no sentido da formação e prevenção nos seminários, para os leigos, para a compreensão e para que esse tema fosse amplamente abordado e se quebrasse o tabu e aquilo que se chama de tirania do silêncio ao redor desse assunto. A Terceira, talvez mais importante, é a escuta e o acolhimento das vítimas.
A partir de 2018, comecei a participar do projeto piloto da criação do Conselho Consultivo de Vítimas para que a voz das vítimas fosse escutada pela Igreja, pelos pastores, de tal maneira que se tome consciência das consequências terríveis que esse delito pode provocar num fiel e em seus familiares. Esse conselho foi criado por eu ser um dos criadores da Fazenda da Esperança… Tive a chance de encontrar essas vítimas não só que vieram de sofrimentos de abuso no ambiente familiar, mas também no ambiente eclesial. Realizamos seminários de formação para todos os seguimentos da Igreja, seja para bispos, religiosos, sacerdotes, leigos, que são interessados nessa questão ou que devem se interessar por essa questão. Nos encontros de formação, as vítimas têm falado de seus sofrimentos e isso dá uma luz muito grande para entender o quanto que é necessário que se fale desse assunto. O falar é o escutar as vítimas é um dos caminhos que ajuda nesse processo de conscientização. A partir daí, começou-se a descobrir um caminho muito concreto para que se trabalhe nessa formação. Em 8 dezembro de 2020, foi criado o Lux Mundi, pela Igreja no Brasil. voltado para a realização do que foi pedido pelo Papa Francisco no motu proprio “Vós sois a Luz do mundo” para recepção de denúncias
Como recebeu a recondução do Papa? Quais as perspectivas de trabalho?
Eu recebi essa notícia da renomeação para ser membro nesse mandato agora de cinco anos da Comissão Pontifícia de Proteção da Criança e do Adolescente, não mais com a novidade da primeira vez porque eu penso assim que o Santo Padre e a equipe consideraram que foi importante eu como membro único brasileiro nesse trabalho junto à comissão e por tudo aquilo que, com a ajuda da comissão e de outros colegas membros aconteceu aqui no Brasil, eu sinto que o Santo Padre entendeu que era importante continuar por mais esse mandato.
E nas perspectivas de trabalho são muitas porque agora nós temos um programa, um planejamento de formação na prevenção em todos os níveis e ambientes eclesiais, desde os catequistas, seminaristas, sacerdotes, religiosos, religiosas, bispos para que se implante esses serviços diocesanos que o Papa pediu no motu proprio. Outra novidade é que no último encontro com o Papa em abril deste ano, findando o mandato do último grupo, o Papa insistiu que com a carta apostólica de renovação da Cúria Romana, e agora que a congregação para a Doutrina da Fé passou a ser o Dicastério para a Doutrina da Fé, a Comissão Pontifícia agora integra a Cúria Romana com sua característica independente, mas para ajudar o Dicastério para a Doutrina da Fé nesse trabalho de proteção da criança e do adolescente. O Santo Padre pediu para que a comissão ajudasse na redação de um relatório anual a ser apresentado a todas as conferências episcopais para entender como que efetivamente está sendo implantado esse programa de proteção da criança e do adolescente na Igreja.
Os novos membros:
- Padre Tim Brennan MSC (Austrália)
- Maud de Boer-Buquicchio (Holanda)
- Teresa Devlin (Irlanda)
- Emilie Rivet Duval (Ilhas Maurícius)
- Professora Irma Patricia Espinosa Hernández (México)
- Monsenhor Peter Karam O.L.M (Líbano)
- Ewa Kusz (Polônia)
- Irmã Teresa Nyadombo Annah HLMC (Zimbábue)
- Irmã Niluka Perrera (Sri Lanka)
- Dom Thibault Verny (France)
Os membros reconduzidos:
- Bispo dom Luis Manuel Alí Herrera (Colômbia)
- Professor Ernesto Caffo (Itália)
- Irmã Arina Gonsalves, RJM (Índia)
- Nelson Giovanelli Rosendo Dos Santos (Brasil)
- Sinalelea Fe’ao (Tonga)
- Teresa Kettelkamp (EUA)
- Professor Benyam Mezmur (Etiópia)
- Hon. Neville Owen (Austrália)
- Irmão Hans Zollner, SJ (Alemanha)
Fonte: Comissão de Tutela dos Menores – www.tutelaminorum.org