Durante a tarde do dia 27, terceiro dia de Assembleia Geral, os bispos organizados em salas dos 19 regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) puderam refletir sobre a atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023) à luz do processo do Sínodo 2023. Com base nas Diretrizes, os bispos apontaram desafios e pontos que precisam ser atualizados pela Igreja católica no país.
O arcebispo de São Luís (MA), dom Gilberto Pastana, contou que o regional Nordeste 5 da CNBB pontuou que as DGAE são expressões de sinodalidade. Entretanto, segundo o bispos do regional, se faz necessário estudar, rezar, acolher e integrá-las mais na vida e missão das comunidades. O arcebispo destacou como ponto apontado pelo regional que “a prática da missão deve se dar a partir da escuta; da vivência das expressões de sinodalidade – uma Igreja que caminha juntos, com comunhão, participação e missão. E que o chão são as comunidades eclesiais”.
Os bispos do Nordeste 5 apontaram os aspectos que devem ser mantidos nas DGAE. Segundo eles, “se que se faz necessário manter os atuais pilares das Diretrizes, porém é necessário dar ênfase ao pilar da Caridade que expressa o compromisso com os pobres da terra e da casa comum e fazer chegar as diretrizes no coração e na missão das comunidades.
Sobre a a atualização das diretrizes da Igreja no Brasil em vista de uma Igreja mais sinodal, os bispos apontaram ser necessário trabalhar elementos que caracterizam a acolhida das diferenças. “Precisamos colocar nossas estruturas (visita pastoral, celebrações) no caminho de proximidade; criando novas relações … Trabalhar as diretrizes, indo além de nossos territórios eclesiais: o mundo é o nosso campo de missão”, pontuaram.
Dom Gilberto Pastana acredita que é necessário considerar um caminho de conversão. “Estar juntos, escutar e estar presente com as pessoas; trabalhar os valores da família e fortalecer a fé, um compromisso batismal, pois a família é uma comunidade de fé e missão”, reforçou o que os bispos do regional apresentaram.
DGAE como expressão da sinodalidade
Já no regional Centro-Oeste da CNBB, o bispo de Rubiataba-Mozarlândia, dom Francisco Agamenilton, avaliou que no regional houve expressiva uma participação e os bispos avaliaram que a construção das DGAE no Brasil expressam a vivência muito forte de sinodalidade
Ele destacou que a sinodalidade não é um plano de pastoral, mas aponta para um jeito de ser da Igreja, que na experiência da Igreja no Brasil, como o jeito de construir as DGAE já aponta para uma caminhada sinodal na prática. “Se alguém pede um exemplo de sinodalidade no Brasil está aí: o processo de construção das Diretrizes da Ação Evangelizadora”, apontou.
Com relação à participação dos bispos do Centro-Oeste pelo segundo ano consecutivo em uma Assembleia Geral dos Bispos em modo virtual, dom Agamenilton avaliou positivamente. “Os bispos, que são um público com idades entre 40 e 70 anos, em sua maioria, aprenderam a usar a tecnologia e participam tranquilamente da assembleia. Estamos tendo, mais uma vez, uma assembleia bastante proveitosa e bem participada com opiniões, considerações. A modalidade on-line não tolheu o expressar dos bispos, então isso embeleza e enriquece a assembleia. Claro que algumas coisas a gente perde como a conversa, o estar junto, que são características da participação presencial”, disse.
Estudo nº 114 e CF 2022
O presidente do regional Centro-Oeste e bispo de Luziânia (GO), dom Waldemar Passini destacou dois pontos da 59ª Assembleia Geral da CNBB: a sinodalidade como tema central e a possibilidade de se tornar um documento da coleção azul, o Estudo nº 114 da CNBB: “E a Palavra Habitou Entre Nós (Jo 1,14) – Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”.
O bispo enfatizou que o tema central caminha em sintonia com as Diretrizes da Ação Evangelizadora que serão renovadas no ano que vem. “É um sentimento comum de que para o bem da Igreja nós precisamos valorizar, criar e sustentar as comunidades eclesiais missionárias, esses grupos menores que vão se multiplicando nas paróquias, de modo que as paróquias sejam uma comunidade de comunidades, fortalecendo os vínculos fraternos a partir do crescimento da fé em Jesus Cristo, da experiência batismal, da experiência da vida eucarística”, disse.
Segundo ele, a partir das comunidades eclesiais missionárias vai se irradiando a fraternidade e a partilha de vida e de bens nos grupos vários das pastorais, movimentos e outras iniciativas, círculos bíblicos, com esse espírito de formar realmente as comunidades como um tecido em cada paróquia.
Já sobre o Estudo 114, dom Waldemar, que é o bispo referencial para a Animação Bíblico-Catequética no Regional Centro-Oeste, disse que o título valoriza a animação bíblica da pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias. “O Estudo valoriza a palavra de Deus, a liturgia, mas ganhando uma perspectiva muito mais de cotidiano na meditação, na oração pessoal, nos pequenos grupos, nas comunidades, mas também aprofundando a dimensão de estudo da palavra de Deus de modo que a palavra de Deus vá animando toda a vida da Igreja.
Desta forma, ele apontou que a Palavra de Deus, a partir do que está sendo retomando com estudo nº 114 na perspectiva da aprovação do documento na segunda etapa da Assembleia dos Bispos, no fim do mês de agosto, pode realmente ser a alma que dá vigor, vitalidade, entusiasmo para toda a vida da Igreja no âmbito pessoal, comunitário e em todas as dimensões.
O presidente do Centro-Oeste pontuou a reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2022 como “muito proveitosa e muito bem avaliada pelos bispos”. Dom Waldemar comentou também o Ano Vocacional que a Igreja no Brasil irá celebrar em 2023. “Nós também valorizamos e nos dedicamos às comunicações referentes ao próximo ano, como Ano Vocacional. A nossa grande vocação é que todos nós somos chamados à santidade, mas com distinções dos lugares na vida cristã com a multiplicidade das vocações e ministérios na vida da Igreja”, concluiu.
O que são as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil?
Renovadas a cada quatro anos, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil são fruto de um processo de planejamento, assumido pelo episcopado brasileiro de modo progressivo e mais sistemático a partir do apelo do Papa João XXIII no primeiro ano de seu pontificado. Resultam de um longo esforço de reflexão sobre a realidade brasileira, à luz do Evangelho, do magistério da Igreja e do Papa. Buscam responder aos anseios do episcopado brasileiro e expressam os grandes rumos que a Igreja deve tomar no país cumprindo sua missão de anunciar o Reino a serviço do povo de Deus.
As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evagelizadora da Igreja no Brasil (2019 a 2023), após intenso processo de debate e acréscimos dos bispos, foram aprovadas na 57ª Assembleia Geral, em Aparecida (SP). Elas reforçam a centralidade das comunidades eclesiais missionárias como lugar de viver os quatro pilares assumidos pelo bispos, a saber: a) Palavra de Deus e a iniciação à vida cristã; O pilar do Pão que é a casa sustentada pela liturgia e sobre a espiritualidade; o pilar da Caridade que é a casa sustentada sobre o acolhimento fraterno e sobre o cuidado com as pessoas, especialmente os mais frágeis e excluídos e invisíveis; o pilar da Missão porque é impossível fazer uma experiência profunda com Deus na comunidade eclesial que não leve, inevitavelmente, à vida missionária.
A partir desta 59ª AG da CNBB foi dado início ao processo de avaliação das atuais diretrizes e da sua atualização a partir da vivência dos Sínodo 2023 e de outros documentos e processos recentes da Igreja na América Latina e no mundo. A partir da síntese das respostas de todos os regionais, a Comissão do Tema Central irá elaborar um texto com os destaques dessa escuta e enviar, até o mês de julho, a todos os bispos. Na segunda etapa da Assembleia Geral, a ser realizada de 29 de agosto a 2 de setembro, em Aparecida (SP), acontecerá o aprofundamento do tema e as indicações para as próximas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, a serem publicadas em 2023.