Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Na próxima quarta-feira, dia 2 de março, iniciaremos o Tempo da Quaresma. Tempo de penitência, ele nos prepara para a grande celebração da Páscoa do Senhor, esse ano a 17 de abril. Quaresma não é sinônimo de tristeza, mas de profunda reflexão sobre a necessidade de conversão que todos temos na nossa caminhada com o Senhor. Somos todos pecadores, caminhamos rumo à Pátria definitiva, plenitude de nossa vida. O Senhor não cessa, através de seu Espírito, de conduzir-nos à perfeição. Todos os dias somos chamados a purificar o coração de todos os pensamentos vãos, desordenados e estranhos, a iluminar o entendimento e inflamar a vontade para que siga em frente na história de nossa relação de amizade com Deus, através de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo.
A Quaresma, 40 dias em que a Igreja nos exorta à vivência intensa da oração, da prática da caridade e ao jejum, deve ser entendida dentro da dinâmica espiritual do Ano Litúrgico. Ela não é nenhuma espécie de “sessão de descarrego” após ter passado 3 dias na “folia” do Carnaval. Embora seu início seja na Quarta-feira de Cinzas, isto é, o primeiro dia após o Carnaval, o Tempo da Quaresma nos coloca na contemplação do mistério da vida de sofrimento, dor e morte daquele que assumiu a nossa condição humana, incluídos dores e sofrimentos e também a própria morte, para que estejamos prontos a experimentar a força e o poder do Ressuscitado. Então, Quaresma é tempo de assumir que nós fomos assumidos e conduzidos à vitória da Ressurreição, vida nova e plena para todos.
A mensagem para a Quaresma de 2022, do Papa Francisco, é uma reflexão a partir de Gl 6,9-10a: “Não esmoreçamos na prática do bem, pois no devido tempo colheremos o fruto, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos tempos, façamos o bem a todos”. A Quaresma nunca é uma experiência de “espiritualidade privada”, antes, isso nunca deve acontecer para nós cristãos. Não pode existir uma espiritualidade privada, pois no sulco da verdadeira espiritualidade está a “sinodalidade”, isto é, a intimidade divina se dá no caminho que percorremos juntos: homens e mulheres redimidos pelo sangue do Cordeiro. Jesus, o Cristo, o Servo Sofredor, não deu a vida por alguns, mesmo que se diga que são “muitos”; Ele deu a vida por todos, porque todos os homens e mulheres que vêm a este mundo são marcados por ele, isto é, foram criados por meio dele, “sem Ele nada foi feito de tudo o que foi feito” (Jo 1,3b). Não esqueçamos disso: não somos nós que nos redimimos, mas é o Filho de Deus que nos redime, é o Crucificado que traz vida nova para nós, é o Libertador que inaugura para todos o tempo de paz, de alegria e de salvação. E isso, Ele faz para todos e com isso, reúne a todos como membros do seu Reino.
Durante a Quaresma, a Igreja no Brasil vive e realiza a Campanha da Fraternidade. Esse ano com o tema: “Fraternidade e Educação”, e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor (Pr 31,26)”. Embora seja a terceira vez que a Igreja trate do tema da Educação numa Campanha da Fraternidade, desta vez a CF-2022 é impulsionada pelo Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco. A CF-2022 tem como objetivo geral convidar a promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.
Dois outros pontos que quero destacar para o início da Quaresma deste ano: na última quarta-feira, dia 23, o Papa Francisco, na Catequese semanal da Audiência Geral, fez um apelo para que no dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, todos os católicos oferecessem suas orações e seu jejum pela paz no mundo. Certamente, tem em mente a situação da Ucrânia. Atendamos ao apelo do nosso Pontífice. O segundo ponto: recomendo as catequeses que o Papa iniciou, precisamente na última quarta-feira, sobre o sentido e o valor da velhice, começando com o tema: “A graça do tempo e a aliança das idades da vida”. Que entendamos e reconheçamos essa grande e bela verdade: a velhice é um poço de sabedoria. Boa Quaresma para todos!