Durante o 13º Congresso Regional de Humanização e Pastoral da Saúde da CNBB NE2, no início do mês, a Nunciatura Apostólica no Brasil enviou uma carta aos bispos, sacerdotes, diáconos e agentes destacando a importância do trabalho da pastoral.
“Queridos amigos da Pastoral da Saúde, o vosso valioso apostolado é uma lição de humanidade à sociedade que deseja descobrir o sentido da vida sem Deus”, diz um trecho da mensagem assinada pelo monsenhor Massimo Catterin, encarregado de negócios do órgão diplomático da Santa Sé.
Confira a carta na íntegra abaixo ou se preferir clique aqui para download.
“A Igreja no Mundo e a assistência pastoral aos doentes e profissionais de saúde no contexto da pandemia do novo coronavírus”
Excelência Reverendíssima
Dom Manoel dos Reis de Farias
Bispo referencial da Pastoral da Saúde do Regional Nordeste 2
Prezados Sacerdotes, Religiosos, Consagrados
Caríssimos agentes da Pastoral da Saúde,
- Sinto-me honrado como encarregado de negócios da Nunciatura Apostólica no Brasil pela oportunidade de proferir as palavras de abertura do XIII Congresso Regional de Humanização e Pastoral da Saúde. A todos testemunho a mais alta amizade e consideração, reconhecendo a importância do que são e do que fazem.
Muito obrigado a quantos tornaram possível este nosso encontro, mesmo de forma sincrônica, nomeadamente à Pastoral da Saúde do Regional Nordeste 2 de nossa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem a Sua Excelência D. Manoel dos Reis de Farias como o Bispo referencial, auxiliado pelos coordenadores diocesanos das diferentes Dioceses que compõem o regional, assim como a todos os irmãos que se dedicam ao apostolado com os enfermos, seus familiares e os profissionais da saúde, uma saudação repleta de admiração e afeto.
De fato o tema deste congresso é de singular importância, especialmente, nesse ano marcado por uma pandemia que a todos tem feito pensar e pedir as luzes do Ressuscitado para aprender os ensinamentos que a graça de Deus quer nos mostrar. Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética e capacidade renovada de “novos mundos ao mundo ir mostrando” (cf. Luís de Camões, Os Lusíadas, II, 45) no que diz respeito à humanização e a Pastoral da Saúde.
- Antes de abordar o assunto que me foi proposto, quisera refletir como a humanização através das dificuldades do atual momento deve estar vinculada com o nosso anseio de conversão pessoal e maior santidade de vida. Realmente, o pequeno e invisível pode ser determinante, não somente no que diz respeito a um micro-organismo que resulta mortal à vida do homem, mas também por aquilo que narra o Evangelho sobre o grão de mostarda (Mc 4, 30-32). Com frequência, nos tornamos mais humanos a partir de atitudes pequenas e escondidas que o Senhor nos inspira como agentes da Pastoral da Saúde.
Hoje, mais do que nunca, estamos percebendo que somos frágeis e vulneráveis: não nos salvamos sozinhos. Ser humano é aceitar os próprios limites e o princípio da sabedoria dos homens novos se encontra na certeza de que as nossas liberdades estão entrelaçadas e que devemos aprender com todos, principalmente dos nossos irmãos enfermos.
Um mundo mais humano depende em boa medida do nosso compromisso com os mais necessitados. Ainda que estejamos num mundo globalizado, a indiferença não pode superar a compaixão que integra o conceito de solidariedade e o introduz no núcleo central do Evangelho que é a misericórdia, revelada no Coração aberto de Cristo.
Queridos amigos da Pastoral da Saúde, o vosso valioso apostolado é uma lição de humanidade à sociedade que deseja descobrir o sentido da vida sem Deus. Não caminhais pela inércia dos que estão à frente ou empurrados pelos que chegam depois, mas pela vitória de Cristo que é também a vossa vitória: Ele sempre estará convosco nesta bela missão de evangelizar o “mundo da saúde” a partir do encontro com um Deus que assumiu a nossa humanidade para nos salvar.
- A Igreja Católica conclama a todos, essencialmente, ao que poderíamos denominar de uma “compaixão operativa” diante dos inúmeros sofrimentos corporais, sociais e econômicos que a pandemia está desenvolvendo. Hoje somos impelidos a mostrar nossa Igreja como este “hospital de campanha” que possui em suas obras de misericórdia corporais e espirituais, verdadeiros instrumentos de presença junto aos mais debilitados.
Não se trata somente de acudir às necessidades das pessoas enfermas, de seus familiares ou dos profissionais da saúde, mas como nos solicita o Papa Francisco: devemos abraçar a sua vida, convertermo-nos em presença viva e dar testemunho do amor de Deus nestes ambientes desafiadores. Diante de nosso coração se encontra a oportunidade de mostrar à sociedade que a caridade não é uma teoria, porém uma maneira concreta de amar.
Em tempos de morte, urge à Pastoral da Saúde a responsabilidade evangelizadora de ser anunciadora da vida (cf. Francisco, Homilia na vigília pascal, 11.IV.2020). Minha referência inclui também a morte social, consequência da exclusão, da fome e da desigualdade que é fruto da ganância e da grande bolha da indiferença (cf. Discurso em Lampedusa, 8.VII.2013).
A Igreja neste momento singular da humanidade entende que Deus está nos chamando a ser testemunhas, anunciadores e construtores de uma vida, que seja boa, bela e verdadeira a partir do seguimento de Jesus Cristo, não obstante as dificuldades ou obstáculos.
Como escutar o que Deus vos pede no seio de vossa missão pastoral? Em primeiro lugar requer a docilidade à ação do próprio Deus, em segundo lugar aprofundar a resposta se sairemos melhores ou piores desta pandemia com uma mudança de vida, mentalidade e fortalecimento de nossa fé e em terceiro lugar servir aos demais como anunciadores de esperança na reconstrução dos corações e da dignidade de muitos irmãos.
- Caros amigos, o Santo Padre Francisco nos recorda que este é um tempo, onde a Igreja Católica e todos os homens redescobrem a importância de rezar, como os apóstolos exclamavam ao Senhor: “Mestre, estamos perecendo”. A oração nos permite compreender nossa vulnerabilidade. É o grito dos pobres, dos que se encontram naufragando, dos que se sentem em perigo ou abandonados…então Deus transmite força e proximidade. Como fez com Pedro, nos dá a Sua mão para retirar-nos da tempestade”(cf. Francisco, entrevista, 20.III.2020).
Peço-vos que ajudeis ou ensinais os enfermos, familiares e profissionais da saúde a rezar, pois a missão da Igreja é obra do Espírito Santo e não consequência de nossas reflexões e intenções (cf. Francisco, mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21.V. 2020). Quando rezamos servimos com gratidão e gratuidade porque o bem que fazemos é um reconhecimento do muito que Deus nos concede e nunca perderemos a razão para os nossos esforços (que não são poucos!), até mesmo diante do cansaço, isto é, a visão de fé que conduz até o céu.
Se a oração for o fundamento da evangelização por intermédio da Pastoral da Saúde, a Igreja nunca perderá a missão de ser um “hospital de campanha”, os médicos são os cristãos a exemplo de Cristo, os remédios virão sempre do amor divino e os pacientes estão no mundo com mãos e coração enfermos de paz.
- Aproveito o ensejo deste congresso regional para apresentar-vos os votos de um santo e feliz Natal com um próspero ano 2021, da Nunciatura Apostólica no Brasil. Que o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo “nos encontre mais simples, humildes, santos, alegres e cheios de Deus, mais parecidos com quem se fez criança por amor e para nos salvar” (S. John Newman, Parochial and Plain Sermons V).
Transmito-vos a proximidade e a bênção apostólica do Santo Padre que vos acompanha e se recomenda as vossas orações por suas intenções e ministério de sucessor do Apóstolo Pedro. Que a Virgem da Conceição Aparecida, saúde dos enfermos, auxilie os frutos desta rica jornada de trabalho com renovado ardor missionário para servir com alegria.
Muito obrigado!
Monsenhor Massimo Catterin