“Milagre” e “Filho de Deus”. Essas são também as formas encontradas pela produtora de rádio e televisão, Ângela Aparecida Menezes, e pela arquiteta, Paula Caroline Marchi Corrêa, ambas mães, para se referir ao nascituro, celebrado nesta quinta-feira, 8 de outubro. Nascituro, de acordo com Antonio Roberto Hildebrand – autor do “Dicionário Jurídico”, é todo aquele que já foi concebido, cujo nascimento se espera.
Paula e Ângela viveram períodos gestacionais difíceis e, mesmo assim, optaram por seguir com a gravidez e assegurar o nascimento de seus filhos.
Para a produtora de rádio e televisão, o aborto foi uma opção no início de sua primeira gravidez. “Vivi na minha primeira gestação um momento de não aceitação. Tentei abortar por três vezes através da ingestão de remédios, mas não deu certo. Depois me indicaram uma clínica de aborto”, relata.
Ângela conta que chegou a ir até a clínica, mas que, momentos antes do procedimento, quando ouviu o coração do bebê, mudou de ideia. “Percebi que não era meu corpo, que era um outro corpo, um outro ser e que aquela criança dentro de mim era uma outra pessoa. (..) Quando ouvi o coração do bebê, ouvi Jesus falar comigo”.
Depois da escolha por seguir com a gravidez, a produtora de rádio e televisão passou por momentos de incerteza: como havia tomado três doses do remédio abortivo, tudo indicava que seu bebê nasceria com alguma deficiência. Angela revela que, após um cenáculo conduzido pelo Monsenhor Jonas Abib no Estádio do Morumbi, em São Paulo, passou a entregar seu filho e seu parto ao Espírito Santo.
“Por experiência própria posso afirmar, com propriedade, que a vida deve ser defendida desde o ventre materno, desde a sua concepção” – Angela Menezes
“Quando meu filho foi nascer, uma UTI neonatal estava preparada para receber uma criança com algum tipo de deficiência. Após o parto os médicos o levaram e depois retornaram dizendo que meu filho nasceu em perfeito estado”, recorda.
A mãe de Guilherme, hoje com 27 anos, e também de Miriam, de 14 anos, afirma que não desistiu de sua primeira gravidez, pois o poder de Deus a fez entender que seu filho era uma benção.
Descolamento de placenta e gravidez na pandemia
O aborto não foi uma opção para Paula durante a gravidez, mas as dificuldades foram constantes. A arquiteta de 34 anos teve um descolamento da placenta e precisou ficar de repouso e tomar uma alta concentração de hormônios para retardar o parto.
No dia do nascimento de Maria Liz, Paula conta que foi preciso romper a bolsa gestacional e ingerir mais hormônios. O bebê apresentou grande dificuldade para nascer de forma natural e uma cesárea precisou ser realizada. “Sofri complicações na cirurgia, por conta de uma paralisação do pulmão”. A arquiteta não assistiu ao parto da filha e o marido chegou a comentar que pensou que perderia esposa e filha no parto.
“Isso tudo ficou para trás”, afirma Paula, que reforça: “O nascimento foi bem complicado, mas foi uma alegria. Somos muito agradecidos a Deus pela Maria Liz. Nada e nem ninguém nos fez desistir daquilo que Deus sonhou para nós que era ter a oportunidade de participar de um milagre”.
Mesmo com as dificuldades, a arquiteta diz não se arrepender da escolha pela vida e pelo bem-estar de sua filha, quando ainda era considerada um nascituro. A experiência também não inibiu o desejo de Paula de ter mais filhos. Grávida de 18 semanas, a arquiteta viveu neste período a insegurança causada pela pandemia da covid-19.
“Fui diagnosticada com o coronavírus e eu e meu marido não sabíamos como seria, o que este vírus poderia acarretar no desenvolvimento do bebê. Passamos por um momento de deserto, mas com muita fé. Está tudo bem e mais uma vez Deus nos honrou. Nunca pensamos em desistir da gravidez, o que nos moveu para seguir adiante foi a fé. Cremos que tudo que passamos nos levaria a um milagre que seria alcançado. Vemos a gravidez como um milagre que Deus nos deu a honra de poder participar”.
Semana da Vida
O Dia do Nascituro encerra a celebração da Semana da Vida. Bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers conta que o balanço desta semana foi muito positivo.
“Vemos com clareza que o trabalho em defesa e promoção da vida está aumentando no país. As pessoas estão se conscientizando do valor da vida, da importância de defender a vida nos momentos mais vulneráveis, como é o caso do nascituro, e também agora um despertar maior para a questão do final da vida”. – Dom Ricardo Hoepers
Celebrar o nascituro é, de acordo com Dom Ricardo, uma grande conquista que o Brasil conseguiu trazer para toda a sociedade, especialmente por uma pressão que foi realizada pelos grupos pró-vida, pela Igreja Católica e também por algumas outras igrejas não católicas, mas que têm a mesma mentalidade pró-vida e compreendem a importância de evitar a ideologia de que o aborto é um sinal do direito e do progresso.
“O Brasil tem despertado para isso e mostrado essa perigosa agenda global na questão da liberação do aborto em algumas nações, o estrago que essa liberação trouxe para esses países. Muitos deles estão revendo suas leis e o Brasil continua com esse debate, infelizmente temos grupos muito fortes defendendo a cultura da morte e a defesa do aborto, mas por outro lado vemos também que o Dia do Nascituro, a Semana da Vida, o Dia da Família, a Semana da Família e muitas outras iniciativas durante todo o ano estão mostrando uma mentalidade pró-vida que vem crescendo em todo o país”, destacou.
O bispo defende que a vida do nascituro deve ser defendida e cuidada desde o momento da concepção. “Entendemos claramente a necessidade de promover este direito fundamental que é o direito de nascer, o direito que abre a porta para todos os demais direitos. Isto está previsto na constituição, ‘a vida é inviolável’, isso está dentro das normativas do país e nós precisamos promover cada vez mais o Dia do Nascituro como uma grande conquista dos direitos da pessoa humana”.
A Igreja e o apoio à mãe e ao bebê
Muito mais que teorias, a Igreja tem propostas, explica Dom Ricardo. O bispo conta que a Igreja tem muitas propostas e testemunhos de que, de fato, é possível cuidar da vida desde o início, desde a fecundação.
“É importante destacar as casas pró-vida, mais de 40, que acompanham mães que estão em dúvida, ou em crise, que acolhem mães e as acompanham até o dia do nascimento. Casas das mais diversas atividades e que trazem um benefício muito grande, um suporte psicológico, afetivo, espiritual para essas mães e que significa um grande passo para a Igreja, pois estamos saindo da defesa moral, que é importante e fundamental, para irmos para o testemunho, para a prática pastoral”.
Nesses tempos difíceis, Dom Ricardo frisa que a vida fica mais vulnerável, por isso é preciso a clareza de que é uma área que jamais pode-se “abaixar a guarda”. “Temos que ser sentinelas, liberar esse eclipse, esse nevoeiro, essa situação que quer esconder ou manipular a vida, torná-la um objeto, esconder a verdade das coisas, mudar inclusive o conceito das palavras. (…) Nesses tempos de pandemia, de crise econômica, social, temos que investir muito mais. É uma batalha a longo prazo, cada dia é um passo a mais na conscientização da defesa da vida”.