Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
Prezados leitores!
No último dia deste mês, 31, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes. É a conclusão do Tempo Pascal. Após 7 semanas, 50 dias depois da Páscoa, a Liturgia da Igreja nos apresenta o relato da descida ou vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, os discípulos e discípulas, reunidos com Maria, a Mãe de Jesus (cf. At 1,12-14; 2,1-13).
Os acontecimentos anteriores, traição de Judas, julgamento no Sinédrio, interrogatório diante de Pilatos, flagelação, coração de espinhos, caminho até o Calvário com a cruz, crucifixão e morte de Jesus, marcaram a vida, o ânimo e as expectativas dos seguidores de Jesus. E agora? Com a Ressurreição, ao terceiro dia, a esperança dos discípulos é refeita. Eles se alegraram com as aparições do Ressuscitado. E, de acordo com o Evangelho de São João, “ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana…, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’… E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,19-22). Segundo São Lucas, Jesus “apareceu-lhes por um período de quarenta dias, falando do Reino de Deus” (At 1,3). Após 50 dias da Páscoa os judeus celebram a festa de Pentecostes, chamada de festa da colheita. Será num dia de Pentecostes que acontece o cumprimento da promessa de Jesus, feita por ele durante a última ceia (cf. Jo 14,16-17.26; 15,26; 16,7-15): a descida do Espírito Santo (cf. At 2,1-13).
A vinda do Espírito Santo sobre os seguidores de Jesus marca o início das atividades dos Apóstolos. Alguns dizem que é o nascimento da Igreja. Podemos afirmar isso, com a observação de que a Igreja vem também do lado de Jesus, aberto pela lança do soldado (cf. Jo 19,34), como muitos autores dos primeiros séculos apresentavam nas suas obras, ou ainda, a Igreja foi prefigurada já no Antigo Testamento. De qualquer forma, a Igreja nasce de Jesus e do Espírito, pois tanto o Filho quanto o Espírito Santo foram enviados pelo Pai para a missão de revelar o plano ou desígnio divino de salvação (cf. Gl 4,4-6: o Filho vem para o resgate e dom da filiação divina; o envio do Espírito Santo é a prova de que somos filhos). O Espírito Santo faz com que aconteça a continuação da missão de Jesus na vida e na missão dos seus seguidores. Uma continuação que deve ser sempre coerente, daí a necessidade de pedir sempre a luz do Espírito Santo para ser fiel ao Evangelho de Jesus Cristo. Eis o que está muito atual na vida da Igreja: todos necessitamos de ser guiados pelo Espírito. A Igreja só alcança sua força no Espírito.
Também o tempo dos apóstolos foi um tempo exigente, eles tiveram que enfrentar vários obstáculos para assumir a missão de continuar a pregação do Evangelho. Não se tratava, e nem se trata ainda hoje, de um ativismo, da instauração de uma “sociedade do desempenho”, mas de um caminho de anúncio que se sustenta com uma relação. A vinda do Espírito significa: para ser como Jesus é preciso ter o seu Espírito. A grande preocupação pastoral, hoje, é se perguntar sobre a nossa conformação ao Espírito. Ele não pode ser considerado facultativo ou dispensável, pois sem Ele todo ânimo se esvai. É através do Dom (assim era chamado o Espírito Santo por alguns autores dos primeiros séculos da Igreja), que é possível seguir o Cristo. Ele traz a “Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê, nem o conhece” (Jo 14,17).
Diante de tanta confusão, de proliferação de falsas notícias, nós todos, os cristãos e cristãs, temos a grave responsabilidade de sempre suplicar ao Espírito: “Vinde, Espírito Criador; enchei toda a terra com vosso raio de luz; dissipai as trevas do mundo, fazei de nós, homens e mulheres, viventes no Espírito, para que a missão jamais seja manchada pelo ódio, pela ganância, pelo mundanismo. Se o mundo não segue o Espírito, fazei de nós templos corajosos e determinados a viver na comunhão divina, que se fez presente na história da humanidade, chamada a ser reflexo da Comunhão do Pai e do Filho e do Espírito, para a qual todos somos destinados, por graça e por ternura do Pai. Amém”.