Estamos aproximando-nos da grande celebração da Páscoa do Senhor. O tempo da Quaresma vai preparando-nos para celebrar o auge emblemático do Mistério Pascal de Jesus Cristo. Aproxima-se a memória daquilo que o Evangelista São João chamou de a hora da glória de Jesus. Esta consiste no momento dramático de Sua morte: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo, mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12, 24). No transcorrer da Quaresma, somos gradativamente lembrados do caminho que devemos trilhar: o caminho da Cruz. Para se tornar autêntico discípulo de Jesus, faz-se necessário abraçar a Sua Cruz, ter a coragem de segui-lo através da “espiritualidade do grão de trigo”, isto é, do morrer para ressuscitar.
Como discípulos de Cristo, o Evangelho leva-nos à lógica de testemunhar o Amor de Deus com a marca da Cruz. Não se trata aqui de propor um estilo de vida irracional, de sofrer por sofrer. Não! A altura da Cruz de Jesus é a altura do verdadeiro amor, por vezes bastante dramático de ser vivenciado, mas que todo homem deve conhecer. Só o amor autentica de fato o humanismo tão reclamado pelo mundo moderno, tornando cada homem e cada mulher livres. Quando nos permitimos ser elevados pela Cruz do Senhor, somos envolvidos em seu Mistério, fugimos da postura de expectadores estranhos ou indiferentes, “(…) mas como protagonistas juntamente com Ele, envolvidos no seu Mistério de Cruz e de Ressurreição. De fato, onde está Cristo devem se encontrar também os seus discípulos, que são chamados a segui-lo, a ser solidários com Ele no momento do combate, para serem copartícipes da sua vitória” (Bento XVI, Homilia do V Domingo da Quaresma, 29 de março de 2009).
A Encarnação de Jesus não completou o fruto da salvação de Deus para esta terra, que peregrina historicamente em sua longa quaresma, mas fora necessário Jesus se tornar grão de trigo. Ser grão de trigo, para Jesus, e, consequentemente, para nós, que somos seus discípulos, é o mesmo que morrer, significa dar a própria vida por causa de Deus e dos irmãos. Diante de uma realidade social tão marcada pela corrupção, principalmente na esfera política, não podemos esquivar-nos do testemunho cristão. Impõe-nos o dever de se deixar ser elevado pela Cruz do Senhor, dever que pode ser traduzido na busca de valores e costumes que desautoriza uma sociedade sem esperança e sem a lógica do Evangelho de Jesus.
Dom Manoel Delson
Arcebispo Metropolitano da Paraíba