‘O mínimo que podemos fazer é nos colocar em alerta para salvar nossas crianças’, afirma bispo

“Diante dessa situação, o mínimo que podemos fazer é nos colocar em alerta para salvar nossas crianças”, afirmou dom Ricardo Hoepers em entrevista ao programa Com a Mãe Aparecida, da Rede Aparecida de Rádio. Comentando o posicionamento da Igreja diante do caso da menina que sofreu abuso sexual dentro de casa e acabou engravidando e depois teve a interrupção da gestação autorizada pela justiça na 22ª semana, o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB falou da importância de unir família, Igreja e sociedade na proteção das crianças contra abusos sexuais. Dom Ricardo ressaltou também a posição da Igreja em salvar as duas vidas.

Com a Mãe Aparecida - Rádio Aparecida“Tínhamos condições de manter as duas vidas. Essa é a posição da Igreja”, disse o bispo durante entrevista conduzida pela jornalista Ana Néri, da Rede Aparecida. Dom Ricardo lamentou que o poder público esteja oferecendo como única opção o aborto. “É esta sociedade que nós queremos construir?”, questionou.

Sobre a necessidade de ações e formação para a prevenção dos abusos, dom Ricardo falou da necessidade de um trabalho em conjunto:

Nós temos que lembrar que a maioria dos abusos são dentro de casa. E isso torna nossas crianças vulneráveis. Então, sim, temos que ajudar aos pais a alertarem as crianças, conversarem sobre o assunto e de fato ajudarem as crianças até a se defenderem nesse sentido. Mas também temos que mobilizar professores para ver os sinais das crianças nas escolas, às vezes sinais de depressão, de tristeza, de isolamento e tantos outros sinais que uma criança pode começar a demonstrar, como agressividade. Por traz disso pode ter um abusador dentro de casa. Nós temos que colaborar para que os catequistas estejam atentos a isso, colaborar para que a sociedade toda, que tem que se mobilizar em torno desse cuidado, dessa salvaguarda dos nossos pequeninos“, afirmou.

Dom Ricardo considera que todas as famílias são responsáveis por esta salvaguarda e que “ninguém está isento”. O bispo afirma que é necessário estar atentos, “principalmente percebendo os sinais e acompanhando nossos filhos, começando pelas redes sociais e pela internet, que também, além dos abusadores dentro da própria casa, mas também temos os abusadores das redes sociais, que estão espreitando a qualquer momento para dar o seu golpe. Os pais também têm que alertar”.

Mas este trabalho não deve ser feito somente pela família, segundo o bispo. “É a família, a escola, a Igreja, é a sociedade inteira, é governo com projetos governamentais que têm que ser implantados urgentemente. É uma sociedade em alerta. Eu digo que, diante dessa situação, o mínimo que podemos fazer é nos colocar em alerta para salvar nossas crianças”, disse.

Dom Ricardo também destacou outros pontos na entrevista. Ele iniciou dizendo que trata-se de “uma realidade dolorosa, impactante” e que gera revolta: “quem de nós não ficou revoltado ao ter a notícia de que desde os seis anos praticamente essa menina vinha sendo abusada pelo tio. Isso é de uma revolta tremenda, é um sentimento que é difícil até de expressar”.

Mas chamou a todos para uma reflexão racional: “não só ouvir o coração, que vai nos levar à raiva, ao ódio, mas também a razão, que vai nos ajudar a dar os passos de humanização desse processo. Por isso, como presidente da Comissão Vida e Família, eu entendo que nós precisamos ponderar todas as dimensões”.

Diante dos questionamentos das redes sociais em relação a um posicionamento em relação ao estuprador, dom Ricardo ressaltou que não é necessário explorar esta questão, uma vez que “ele é um criminoso” e “há um consenso que ele deve pagar pelo que ele fez”.

O bispo contextualizou que a família representa não só ali aquela situação concreta, mas muitas outras famílias que sofrem também falta de condição, falta de acompanhamento, ausência dos papeis importantes na família e que são fundamentais. “É bom que a gente comece a refletir a importância do papel da família, a importância que todos os governos, o poder público comece a investir mais na família, como uma proposta de equilíbrio social”. Para dom Ricardo, “não cabe somente a nós como Igreja, mas à sociedade toda resguardar os valores e a importância da família no equilíbrio emocional de todas as pessoas. E na salvaguarda também das nossas crianças”.

Resultado final

O presidente da Comissão para a Vida e a Família da CNBB lamentou o “resultado final” do caso: “de um ato criminoso, de um ato horrendo, de um ato abominável, nós demos a pena capital a um bebê. É uma coisa que eu não me conformo. E é em nome desse bebê que nós como Igreja queremos falar também, queremos refletir. Não estamos negando nenhuma outra realidade, não estamos negando a dureza específica dessa família, especialmente dessa menina-mãe, mas o que nós estamos pensando e temos que refletir – e temos que enfrentar esse debate – é por esta criança ter sido o bode expiatório. Quem levou a culpa de toda a violência foi um bebê inocente”.

Dom Ricardo recordou que em toda a história de vários povos há uma regra de ouro de não matar um inocente. “Há um consenso histórico que todas as gerações de que este princípio é basilar numa sociedade. Não matar um inocente”.

Processo

O bispo ainda recordou seu artigo publicado na manhã de segunda-feira, no qual pede esclarecimentos das autoridades em relação ao processo até chegar no ato que interrompeu a gestação: “Não foi respeitado um processo que de fato levasse em conta o estágio em que a criança estava, o laudo técnico que foi dado no hospital em Vitória. Médicos deram laudo dizendo que o aborto não era a solução, nem o melhor pelo estágio que estava o desenvolvimento da criança. Então porque isso não foi respeitado? Isso é um ponto que eu acho que a sociedade precisa de esclarecimento”.

Porque nós optamos pela morte?

Dom Ricardo ponderou várias vezes sobre a escolha pela morte. “Havia todas as outras possibilidades de sobrevida das duas crianças, porque nós optamos pela morte?”.

Por mais que nós compreendamos o trauma do que significa esse filho [para a menina-mãe], nós temos hoje todas as condições com a ciência, a psicologia, toda essa área de medicina que daria condições de acompanhar essa gestação e, claro, quantos pais e mães esperando uma criança? Poderia trazer a alegria, a felicidade para alguma família. Porque optamos pela morte e não pela vida? Tínhamos condições de manter as duas vidas. Essa é a posição da Igreja”, disse.

Diante dessa opção pela morte, o bispo destacou que falta um projeto governamental claro, tanto nas Secretarias Municipais e Estaduais, como no Ministério da Saúde, de que a morte não seja a única opção: “Hoje, o poder público está oferecendo como única opção o aborto. É esta sociedade que nós queremos construir? Uma sociedade que mata suas crianças? Essa pergunta que eu faço a toda essa normalidade de que semanalmente existem essas questões. O problema de nós nos acostumarmos com esse discurso. Amanhã vamos estar nos acostumando com o discurso de que os nossos idosos estão sendo mortos por eutanásia porque isso é normal. A normalidade vai se normatizando em torno daquilo que nós estamos impondo para a nossa sociedade como única solução”.

Dom Ricardo revelou que pretende propor que a Defensoria Pública da União tenha um grupo de trabalho específico para a proteção do nascituro e para a proteção da família. “Está mais do que na hora de nós também olharmos para este início de vida e dar a salvaguarda necessária, a tutela do Estado sobre a vida do nascituro, porque esta normalidade de achar que o aborto se tornou a solução do nosso problema, é, no mínimo, irracional. Nós estamos assinando um termo de incompetência. Como nós não conseguimos resolver as questões de proteção da vida, então optamos pela morte”, afirmou.

Trabalho da Pastoral Familiar

Bispo referencial da Pastoral Familiar em âmbito nacional, dom Ricardo lembrou do acompanhamento realizado em milhares de casas pró-vida: “são muitas pessoas envolvidas na questão da adoção, são muitas iniciativas no Brasil que estão demonstrando que as pessoas estão despertando para outra opção que não seja a morte. E aí a gente vai percebendo que este chão começa a ficar um pouco mais tenso porque, em torno do aborto existem também projetos grandes de interesse”, revelou.

Fundamentalismo

O prelado também ressaltou sobre o posicionamento da Igreja em relação ao aborto: “Não se trata aqui de impor nada sobre os outros, não se trata de fundamentalismo religioso, não se trata de fanatismo religioso, se trata sim de salvaguardar a vida de nossas crianças e do futuro do nosso país”.

Fonte: CNBB

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