O dom do martírio, Dom Manoel Delson.

Na tradição cristã, o martírio, que é a entrega livre da vida por causa do Evangelho, indo até as vias da morte, sempre acompanhou os homens e as mulheres de fé. A decisão pelo Evangelho de Jesus Cristo foi, ao longo dos anos, consolidando uma fileira incontável de mártires que testemunharam a seriedade da fé e da confissão católica. Aqui poderíamos citar o martírio de São Sebastião – soldado romano que é celebrado sempre no dia 20 de janeiro e que teve seu corpo martirizado por flechadas.

Descrever o martírio como um dom de Deus parece ser um absurdo desmedido, mas devemos trazer aqui aquela palavra de Jesus: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente” (Jo 10, 18). Os mártires católicos entregaram suas vidas livremente porque carregavam consigo a convicção de que Deus permanece e nos acompanha em qualquer circunstância da vida.

Diante desse cenário clássico do martírio, ainda podemos refletir sobre uma nova forma de vivê-lo em nossos dias: o de ser ridicularizado. Os cristãos do mundo novo são cada vez mais levados à exclusão, orquestra-se maldosamente hoje uma cultura que ridiculariza os que prestam serviço à Verdade do Evangelho. Verdade esta que pede para ser ouvida diante de uma humanidade que fabrica verdades a partir da eloquência humana e das ideologias.

Que deve fazer os novos mártires, ou seja, os cristãos que testemunham com a vida a valentia do Evangelho? Não devemos nos omitir em evangelizar os diversos espaços sociais, e nunca devemos viver dentro de nossas igrejas, mas, com alegria e esperança, devemos estar no coração do mundo. Não podemos guardar para nós mesmos a verdade que nos torna livres. A fileira dos incontáveis mártires da Igreja é como que um luzeiro a testemunhar a beleza do seguimento de Jesus Cristo – o perfeito mártir. É necessário dar testemunho da verdade em tudo, mesmo que nos custe a própria imagem. A alegria missionária, tão pedida pelo Papa Francisco, deve provocar ações e estilos de vida que mostrem ao mundo que dar a própria vida não é um peso insuportável, mas, se a entregamos livremente, é para nós uma feliz oportunidade de santificação pessoal e de transformação do mundo.

O dom do martírio justifica-se pela capacidade de imolar nossa vontade no amor de Cristo, e, mesmo que sejamos ridicularizados, o que importa é testemunhar que Deus nos acompanha sempre, pois seu amor é sem fim, e nunca nos abandona.

Dom Manoel Delson

Arcebispo Metropolitano da Paraíba

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