Por dom frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap*
Na última década de 80, o então papa João Paulo II, atualmente elevado aos altares da Igreja como santo, entregou nas mãos dos fiéis católicos do mundo inteiro uma carta apostólica que trata sobre o sentido cristão do sofrimento humano. O papa das famílias e da misericórdia começa seu ensinamento propondo-nos o tema do sofrimento como uma realidade presente em todas as culturas, “que acompanha o homem em todos os quadrantes da longitude e da latitude terrestre; num certo sentido, coexiste com ele no mundo; e por isso, exige ser constantemente retomado.”
Mas será que constantemente sabemos lidar com este aparente mal que nos toca? Devemos meditar mais sobre o sofrimento humano, ainda que os tempos vigentes nos apresentem um estilo de vida que abomina a acolhida do sofrimento. Para João Paulo II, este “parece pertencer à transcendência do homem; é um daqueles pontos em que o homem está, em certo sentido, ‘destinado’ a superar-se a si mesmo; e é chamado de modo misterioso a fazê-lo.”
Um ponto bastante interessante nesta carta do papa é quando ele afirma seguramente que a Igreja é portadora do dever de procurar o encontro com o homem, e este se dá especialmente quando os homens e mulheres sofrem. Neste encontro, o homem que sofre se torna o feliz caminho da Igreja. Os cristãos devem se ajudar mutuamente, não podem se colocar na situação de pessoas indiferentes aos sofrimentos que marcam dolorosamente o caminho universal da humanidade. Essa ajuda mútua deve partir sempre da oração, pois o problema do sofrimento sempre está ligado à nossa queda no pecado.
Precisamos rezar muito, tomar para dentro de nossa oração os sofrimentos da humanidade. Tal atitude nos torna seguidores das pegadas do Salvador que Se revela sempre como O Deus solidário. Ele é o primeiro a Se fazer Próximo e Misericórdia para com os que estão caídos nos males do sofrimento. Para o Papa da Misericórdia, ” a parábola do Bom Samaritano pertence ao Evangelho do sofrimento. Ela indica, de fato, qual deva ser a relação de cada um de nós para com o próximo que sofre. Não nos é permitido passar adiante, com indiferença; mas devemos ‘parar’ junto dele. Bom Samaritano é todo o homem que se detém junto ao sofrimento de um outro homem, seja qual for o sofrimento. Parar, neste caso, não significa curiosidade, mas disponibilidade.”
A oração e a solidariedade devem ser o remédio que o Senhor nos pedirá para irmos ao encontros dos mais sofredores. A nossa fragilidade e pequenez não devem nos impedir de militar como Igreja em saída pelas estradas do mundo.
*Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba